terça-feira, 5 de maio de 2015

Em Comida di Buteco e papo de mulher, jiló será sempre jiló

Nada como a boa e velha conversa com as amigas, essa é sempre uma receita de sucesso. Dessa vez o papo navegou entre a feira de Vigário Geral e suas ofertas imperdíveis de coisas para o nosso lar e bar (sim, gostamos de coisas para o bar de casa também - fetiche antes só dos meninos),  até as diversas provas de comidinhas de boteco, trocas de receitas e análises sobre os relacionamentos e suas similaridades com os sabores, aromas e características dos petiscos experimentados.

Depois das várias provas, durante as degustações e entre um bebericar e outro, nossos papos versaram sobre as características dos alimentos para nutrição do corpo e aquilo que alimenta (ou detona) a nossa alma,  ou seja,  o amor. Esse papo nunca pode faltar entre a mulherada. Somos ridículas  intratáveis quanto a esse quesito. 

Solteiras, casadas, recasadas,  recusadas,  separadas,  na coluna do meio ou mesmo carregando um "pau de correnteza" - ver: http://umavezerahistoriasdegente.blogspot.com.br/2013/12/pau-de-correnteza.html , sempre falamos "deles" ou para algumas, "delas",  mas sempre sobre o amor, seus sabores e dissabores. E falando de amor, acabamos nos debruçando sobre os nossos pares ou ensaiantes ao cargo ... 

Ô coisa difícil esse assunto de relacionamento! De aspirantes à santo aos filhos da puta assumidos, descobrimos que entre o bom e o ruim há muito mais variação do que podemos supor. Nada nem ninguém é uma coisa só,  uma única faceta previsível. E assim,  provamos muitos petiscos pela rua afora. Como sardinha e salmão no mesmo prato,  pelo mesmo preço,  como comida a quilo, somos pluralidades na mesma alma, todos nós:  nós, nossos "nós " e eles (ou elas).

A gente estica a prosa e quando percebemos, a prova era de um prato do "Desafio Doritos",  servido como uma "guacamole" da cozinha mexicana, só que ao invés do abacate, jiló como ingrediente substituto, para ser degustado junto com o Doritos. Mesmo disfarçado nos diversos temperos, o jiló estava lá amargando a boca da gente... Depois teve um croquete de jiló com rabada, que apesar da rabada super gostosa e apimentada, não negava ao fundo o gosto do jiló. O filho da mãe estava lá, amargo em algum momento. Moral da história é  que foi impossível não analisarmos a situação do ponto de vista dos relacionamentos. É aquele negócio,  o cara te conheceu traindo a namorada e você fica sabendo dessa graça depois, como confiar no sujeito que traiu a outra? Ele é muito bacana, muitas afinidades, a gente se encaixa, combina mas a porra do fantasma está lá. É difícil acreditar que o sacana se apaixonou perdidamente pelos seus encantos e não vai repetir a dose com você! Isso não é ruim? Mas ele é bom... E aí?

Outra crença que temos é de acreditarmos que vamos converter as opiniões políticas do par ou até mesmo fazê-lo levar uma "vida moderninha e deixar sua menininha sair sozinha" com as amigas para circuitar pelos bares, sem demonstrar uma dose de insatisfação. Será?

Jiló será sempre jiló,  quando não amarga de primeira, no fim você sente amargar, porque esse é o jiló, mesmo que você enfeite, tempere, misture, cubra, frite, asse, esquente, esfrie ou o apresente em diferentes nuances,  formas e acompanhamentos, o amargor estará lá e você o sentirá mais cedo ou mais tarde.

O "x" da questão é que não existe o famoso "par perfeito" e nem o "bem" e o "mal" separadamente, no estilo: essa pessoa é bacana e essa outra não presta. Essa dicotomia não faz parte do ser humano, quiçá dos relacionamentos... O que precisamos sentir é  se "deu liga", como as diferenças se encaixam, se o lado amargo dele (e que todos temos) é negociável para você, se você não está esperando que o balconista da farmácia te venda uma peça de filé mignon suculenta... Na farmácia se vende remédio! E é no açougue que se compra carne e ponto. Trata-se de aprendermos mais sobre as nossas expectativas do que sobre o outro. Esperamos coisas que o outro não pode dar ou gostos que não tem o sabor desejado. Sabemos disso mas insistimos em enquadrar o outro nos nossos ideais. Colocamos um óculos cor de rosa para ver poesia onde não há ou amargamos a vida do outro (e a nossa) com as cobranças e gosto de fel,que está em nossa boca. O mergulho necessário é o do autoconhecimento para não transformar a nossa vida em uma autossabotagem sem fim. Aceite o jiló como ele é, ele não pode enganar o seu paladar. A gente é quem tenta fazer isso incansavelmente. Ele é o que é e é você quem espera algo que ele não pode ser.

Osho diz que a nossa felicidade está diretamente ligada às nossas expectativas, eu diria que há até um pouco de matemática nisso, embora não seja uma conta tão racional assim. Por exemplo, se você espera "0" e o placar termina com um "10" você fica super feliz. O troço superou as suas expectativas. O forte do meu par nunca foi o romantismo com flores e longas cartas de amor e não espero isso dele mas vez por outra ele faz,  aí sempre me surpreendo e ele leva nota máxima. E isso é maravilhoso para nós dois, que ficamos extasiados! Sem sombra de dúvida, ele sempre foi o meu melhor namorado. Agora, se você espera "10" e o camarada te deu somente "2", isto é, 20% do que você desejava, você fica hiper frustrada e com raiva de receber essa miserinha. Portanto, espere coisas reais de pessoas reais!  O outro não é perfeito, nem você é a obra prima infalível, irretocável e única deste universo.

Precisamos lidar com as imperfeições, diferenças e sabores do prato que escolhemos (e muitas vezes gostamos muito) ou então: "garçom me vê o cardápio aí, troca meu prato que eu não gostei desse, afinal jiló não dá pra mim." Mas para outras, é um bom acompanhamento para a cervejinha não ficar solitária. E também conheço gente que ama jiló de verdade. Eu prefiro a cerva sozinha do que comer jiló. Tem sabores para mim que são inegociáveis...

O meu par por exemplo,  tem uma pitada de conservadorismo, aliás ele carrega consigo alguns "ismos" irritantes (um certo machismo, gotas de moralismo, saudosismos que elevam questões da nossa geração como sendo a melhor época, com os melhores valores), que entram em rota de colisão com o meu lado progressista,  apesar da nossa safra pertencer a mesma geração. Vivemos a juventude nos deliciosos e famosos anos 80,  quando transgredir significava matar aula para ficar com o namorado ou aparecer em casa grávida em plena adolescência. Geração coca-cola total. Hoje a juventude vive o poliamor e ele não consegue aceitar isso. Ok ok, às vezes eu também não entendo muita coisa mas tento aprender os valores dessa geração. Apesar de ter feito loucuras na casa dos 20, hoje ele tem um lado retrô charmosérrimo passeando comigo devagarzinho em sua Harley Davidson estradeira que tanto curto, seu capacete old school personalizado com óculos (tipo aviação) e um certo jeitinho tímido e careta que eu tanto amo. Ele é  plural e o conjunto da obra muito me agrada. Por vezes ele é intransigente com as suas convicções mas também ele é aquele que está junto "pro que der e vier", igualzinho a música do Geraldinho Azevedo. Apesar de não ser muito romântico, é extremamente carinhoso e gentil e, vez por outra me faz algumas surpresas. Mesmo quando estou com os cabelos desgrenhados e toda desarrumada, ele arruma um jeito de dizer que estou linda e de reafirmar todos os dias, de tantas formas, o quanto me ama. Isso tem preço? Não tem, é impagável. Cuida de mim e dos nossos filhotes lindamente mas é um bagunceiro de primeira. Não cozinha mas é o melhor ajudante de cozinha que já conheci.  Ele gosta que eu seja a chef e elogia todos os meus pratos, por pior que sejam rsrs. Gosta mais do dia como eu mas quase sempre bagunça minhas noites de sono (e eu adoro). Apesar de não ser vaidoso, é um gato ao natural. Enfim,  ele é lindo como é e o meu número. E eu o amo tanto!!! Com tudo isso, seus defeitos tornam-se quase insignificantes para mim. Mas de vez em quando marco meus territórios impenetráveis e inegociáveis!

Eu curto cerveja e vinho. Ele só toma vinho. Tomo a cerveja com as amigas e bebo o vinho com ele. Compartilhamos bons jantares feitos por nós, altos papos e muitas risadas, porém nunca bebemos na mesma taça e isso é bom, acho. Gosto do nosso encaixe sem sobreposição. Às vezes meu príncipe vira um chato mas do que posso reclamar?  A bela aqui, vira uma fera de vez em quando. Um monstro mora em mim e às vezes acorda. E ele, quando não o beijo docemente, adormece e se transforma em sapo. Então, nessas horas, ele acaricia a fera e eu beijo o sapo. Temos o nosso lado "feio" e estamos sempre aprendendo a conviver com essas versões de nós mesmos.

Pois é, já a minha mãe não deu essa sorte, meu pai era um galinha clássico, aqueles de carteirinha que tem escrito na testa: pego geral. Arf! Odeio isso, não consigo confiar em homens que olham para todos os rastros de saia que passam a sua frente. Meu pai beijava poste que tivesse cabelo comprido. Ô coisa patética, ele não podia ver mulher. Em contrapartida tinha um bom humor contagiante, um sorriso fácil (que herdei dele) e um jeito bom vivant de levar a vida. Porém, há mulheres que toleram a traição e a naturalizam do mesmo modo que eu rio e brinco com o meu marido quando ele reclama do meu vestido supostamente transparente, troco a calcinha por outra de tom mais escuro e saio bela e faceira com o mesmo vestido. Simples assim! 

E homens (ou mulheres) que são alérgicos a trabalho? Ai. Meu. Deus. Desses eu saio correndo. Não importa quanto ele ganhe, importa é que não seja um encostado ou filhinho da mamãe. Porque não está fácil pra ninguém e é bom que cada um corra atrás do pão de cada dia. Minha mãe também deu azar nisso, meu pai era desses que detestava trabalhar, era sempre chamado de "garoto grande", estilão Peter Pan,  daqueles que nunca crescem. E apesar de não corresponder as minhas necessidades e expectativas de filha, enquanto ele viveu recebi pelo entregador de flores todo dia 30 de novembro de cada ano, um estonteante buquê de rosas, acompanhado de um cartão com belas palavras e finalizado com um "eu te amo". Adorava isso! Ele era assim... Ele mesmo! Ele já se foi mas essas flores ficarão em minha memória para sempre.

Já a minha mãe,  apesar de jamais ter ouvido dela um "eu te amo",  cuidava da nossa saúde, estudos e toda a logística que envolve os cuidados e a proteção dos filhos. Gratidão total apesar de todas as nossas diferenças.

Bem, pra quem gosta de cinema  como eu, vale assistir "Relatos selvagens", filme argentino e espanhol, de 2014, e "Crash" (No limite ou colisão), filme estadunidense e alemão, de 2004. Ambos os filmes mostram as nuances de gente de verdade, que assim como nós, não separam em suas histórias o bem do mal, mas são facetas de uma mesma pessoa. Somos capazes de muito mais (ou muito menos) dependendo das circunstâncias, contextos e momentos de nossas vidas. Porque vida e morte moram na mesma alma, assim como bem e mal não são forças opostas mas habitam o mesmo lar, pertencem a uma única vida. Os encontros com outras vidas é que revelam muito de nós mesmos.

Eu começo as minhas histórias sempre com cartão verde.  Minha mãe sempre disse que isso era errado,  que não se deve abrir a guarda no início. Mas eu sou assim e gosto de confiar e acreditar que o mundo é bom, mesmo na minha versão 4.1. tenho um lado Polyanna que gosto de preservar. Para quem não conhece, Polyanna é um clássico da literatura infantojuvenil que conta a história de uma menina de 11 anos, que após perder o pai, foi adotada. Em seu novo lar, passa a ensinar as pessoas o "jogo do contente", aprendido com o pai. A brincadeira consiste em extrair o melhor e o lado positivo de todas as situações, mesmo nas piores experiências.

Lógico que se ficar difícil e houver falta, eu puxo o cartão amarelo! Mas, às vezes mostrar o cartão vermelho é necessário nos relacionamentos amorosos. Expulsão também pode fazer parte do jogo. Porque tem coisas, como diz uma amiga amada, que eu "NÃO SOU OBRIGADA! ". Ela tem razão e deveria patentear isso. Adooooro!

Cada um sabe o seu paladar, conhece os seus limites, isso é bom, não é?

Nesse circuito de boteco em boteco, a moela e a inovação do cachorro quente de língua não deu pra encarar não. Nem me atrevi, a essa altura da minha vida,  já sei o que não suporto.

E enquanto a conta não vem, a saideira, garçom! Porque jiló vai ser sempre jiló, moela vai ser sempre nojento (pra mim) e língua eu não como de jeito nenhum,apesar do conjunto da obra do prato. Assim, cabe-nos saber o que gostamos, aceitamos, negociamos e rejeitamos. Quando não desce, não dá pra forçar a barra. Tem coisas que nosso estômago não aguenta, dá um revés, vomitar é quase uma regra ou você pode ter uma grande indigestão!

Ah sim, no dia seguinte a esse circuito, fiquei enjoada com a farra de gordureba e jiló. Ainda sinto o gosto amargo em minha boca... Precisa ser assim? Porque "não importa o tamanho do boteco mas o sucesso da receita". E a receita (de tudo), sempre será uma mistureba de ingredientes, igual a gente, que é gente de verdade!

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Bem sim, bem louca...


Era um dia como outro qualquer e biriblim, entra uma mensagem pelo whatsapp. Era de uma amiga: “E aí, você tá bem?”. Respondo sem pensar: “Tô bem sim, bem louca!”. Quase não me dei conta do excesso de sinceridade que me acometeu.

Em tempos de análise, crise por falta d´água, colapso político, perdas econômicas, amadurecimento pós 40 e mais uma lista infindável de trágicos acontecimentos (aumentados da minha parte dramática é claro), eu deveria encontrar o meu eixo, ou melhor, eu deveria ter um eixo, só que não. Ando cada vez mais pirada, louca e desequilibrada. Envelhecer, viver a vida acontecer  virou sinônimo de enlouquecimento.

Cansada da existência, levanto e caio, levanto e caio, levanto e tropeço, claudicante sigo, consigo, às vezes não. Há, por vezes, vontade de desistir, mas continuo. Não é bom?

Hoje em dia parece que anunciar nas redes sociais  que se está vivendo e fazendo coisas vale mais do que o que se vive. Como se satisfaz com a vida virtual? Como tanta gente faz, em tempos onde posar para postar é o que realmente importa. Babaquice pura?! Vaidade?! Competitividade?! Exibicionismo que se complementa pelo voyeurismo?! Que fenômeno absurdo seria esse?

Clarice Lispector escreveu certa vez que “uma pessoa podia gastar-se sendo apenas”. Pronto, me sinto gasta, queria ter escrito essa frase, seria facilmente de minha autoria mas não foi. Me contento em reproduzi-la. Amo Clarice, ela sempre traduz a minha alma.

Esgota sentir, ser, cara na vida, vida na cara, deve ser por isso que as pessoas desenvolvem uma segunda vida nas redes sociais. Hoje tenho preguiça de existir e tenho também preguiça das pessoas, tô gasta. Ao contrário da maioria, não tenho saco para as redes sociais embora a utilize esporadicamente. Vai entender?! Há medo mas também esperança. Reclamo com a vida da vida. Ainda a desejo apesar dos pesares.

O problema também é que faço muita besteira, sou literalmente uma “merdeira”, tenho uma existência tão errada que até as besteiras me acham besta. Isso me gasta ainda mais, pois vivo me desculpando, me reparando, me consertando com a vida. Não é chato isso?

Já tive sorriso mais fácil e vívido, agora ele me vem mais difícil e até opaco, deve ser a idade. Poucos velhos tem um sorriso límpido e aberto. Nesse ponto tenho vontade de ser como era antes. Tenho a impressão corriqueira de que não falo coisa com coisa. Falo coisa com gente, vejo gente com coisa. Escrevo sem pensar. Se pensar muito, apago tudo.

Ter um filho é viver vigilante e sobressaltada. A gente fica magra e nervosa ou então gorda e nervosa, mas sempre nervosa. É a natureza das mães, acho. A gente sempre tem medo que aconteça o pior. Leva o casaquinho, se comporta, presta atenção, juízo, não mexe em nada, não mergulha no fundo, escova os dentes, coloca o chinelo e etc e tal. Deve ser o medo das mães que protege os filhos. Não conheci até hoje nenhuma mãe que não tivesse medo. Todas são apavoradas.

Estou inquieta, indecifrável. Sempre quis um homem que me entendesse e que me explicasse. Por vezes não gosto da explicação agora que o tenho. Ele me acha louca, penso. Mas creio que deva me amar assim mesmo. Isso também é bom, não é? Devo ser complexa e complicada demais. Nem eu me aturo. Há desconforto em viver, sinto esse desconforto como se procurasse uma posição que me trouxesse apenas: paz. Sempre fui assim, sem paciência, sem paz interior. E isso é uma merda! Às vezes tenho vontade de meditar, mas não sei como se faz.

Morte e renascimento fazem parte de mim mas tem horas que só a redenção ao silêncio me conforta. Então calo-me, escuto-me. Adianta porra nenhuma para conquistar a paz interior. Continuo embaralhada e embarulhada por dentro.

Desde sempre fluo instável, coisa ruim de se admitir! Quase sempre penso na morte e por vezes (muitas) desejo encontrá-la e é  aí que começo novamente a travar uma luta contra ela. No ímpeto de viver, como de costume, claudicante vou seguindo. Vida, morte, vida, morte...

Sobrecarregada de mim mesma penso: passa rápido tempo! E coloca as coisas no lugar. Que lugar?Aproveita e leva contigo essa sensação de sufocamento. E, quando estiver tudo bem, tempo, que você passe bem devagar.

E assim sigo bem, bem louca!





quinta-feira, 15 de maio de 2014

Apartamento com varanda




O amor surge dos avessos.

Avesso à morte, ao egoísmo, à solidão.

Ele morre sim mas para renascer mais pleno e forte, quantas vezes forem necessárias.

O amor quer solicitude, doçura, sorte, altruísmo, oração, coração.

Ele é avesso à negatividade e à impossibilidade da tentativa de sua recusa ou inexistência.

O amor urge dos avessos. Às vezes se manifesta às avessas, próximo à loucura, sem leis, sem limite.

Ele é avesso à ordem, à disciplina, ele é travesso.

O amor se move pelo avesso.

Ele é avesso às definições, porões, ele é livre e imprime-se soberano, sem plano, sem panos.

Ele é desrazão, pura emoção.

O amor faz casa nos avessos.

Ele aparece nos versos, transversos, belos, inteiros, insuficientes, com beijos, abraços, olhares, amassos.

O amor apenas surge, urge, ele não precisa de afirmação, interrogação, ele é e está lá. Ele fica, é pra sempre.

O amor nos vira do avesso.

"O amor é a poesia dos sentidos", disse Balzac. E não é que sentimos todos os nossos sentidos como se fossem poesias?

O amor precisa de futuro, gosta de contar histórias do passado e a vida agradece esse presente! 

O amor acontece nesse meio tempo entre um pedido de casamento, um amor de adolescência, risos e olhares, um tempo distante e um para sempre eterno, num apartamento com varanda.

sábado, 15 de março de 2014

Transfigurada




Sim, encontrei com a morte faz pouco tempo, cabelo esvoaçante, usando um jeans rasgado, camiseta branca bem informal, parecia despretensiosa, mais tranquila e terna do que eu poderia supor, porém, misteriosa e sorrateira, ela me disse: estás transfigurada!!! Quem eu? Eu? Por que?

Eu nunca me senti tão bem quanto nos últimos tempos. Como assim? Visita inoportuna, fora de hora, achei.
Logo você morte, vem me dizer isso!

Sim, transforma-se todo o ser que encontra vida nova, outra vida, vida reencontrada!

O que houve?

Você mudou de feição, de figura, de conduta, de perspectiva, transformou tudo, estás até com a aparência alterada, transfigurou-se ué! Mais bonita, com o coração mais redondo, parece bater mais forte agora, vejo-o sob o relevo do teu peito. Sim vejo, nitidamente, está bem diferente, ampliado. Sim, percebo reluzir os olhos, a pele, o sorriso. Nasceste de novo, perguntou a morte?

Não gosto de conversar com ela, mas gosto dos enunciados desta conversa, continuo.

Porra, devo estar louca neste diálogo com a morte, só loucos conversam com a morte. Teimosa, continuo mesmo assim...

Ouço seus prenúncios, quero saber mais sobre esse pedaço de vida bom! Diga aí, por que parou pra conversar comigo?

Putz, rapidamente me arrependo, coloco a mão na cabeça e penso rápido. Puta-que-o-pariu! Já sei, não tô louca, morri, é isso! Não quero continuar esse papo.

Eis que a morte chega mais perto e, carinhosamente me abraça e diz bem de mansinho perto do meu ouvido:
Minha cara, algo em você morreu para que boas novas pudessem nascer em sua vida. Você enfim se encontrou com as mãos vazias, com sentimentos mortos, comportamentos exterminados, processos em falência e lágrimas derramadas pelo luto de tudo e de quem se foi. Nada disso te servia mais. Enfim você desapegou-se, morreu, largou tudo para trás ou deixou tudo seguir seu fluxo, para nascer, sem razão, novamente. Desrazoável enfim, você renasce num reencontro e o amor nasce neste encontro. Encontro com quem? Perguntei à morte.

Ela responde prazerozamente: com a vida meu bem.  E ela continua:

Se alguém penetrou de mansinho em sua alma e te fez viver os seus melhores poemas imaginados, você nasceu, enfim, pra vida novamente.

Se você acordou surpresa por querer dar o melhor de si a alguém, você amou de novo.

Se esse amor trouxe calma e frescor para sua alma cansada, você renasceu espiritualmente.

Se você é acolhida em seus ataques mais obscuros de fúria e medo (sejam eles revelados ou não), você encontrou quem realmente te quer bem.

Se alguém te aceita mais em suas indagações, em seus devaneios, defeitos e feitos, do que você mesma, você encontrou enfim, o amor da sua vida.

E a morte disse, abraçe-o, apenas viva isso e tudo que você sempre buscou, te encontrará. Desta vez, não mande a morte e nem o amor ir embora por sentir medo, apenas deixe morrer em você tudo que não pertence a sua transfiguração atual, às suas mudanças e metamorfoses necessárias. Porque sobre o amor e a morte há mais mistérios do que a nossa compreensão pode alcançar. E ela continua: somente quando encaramos a morte (de algo em nós, alguma coisa ou de alguém em nossas vidas), é que realmente vamos pra vida!

“Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva - viva!”
Cazuza



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Pau de correnteza


Tomando algumas geladas cuasamigas, entre versos e protestos sobre o mundo masculino, uma delas me solta a seguinte sentença estrondosa e hilariante: “OLHA, PAU DE CORRENTEZA EU NÃO QUERO MAIS!!! CHEGA DE PAU DE CORRENTEZA NA MINHA VIDA!!!”

Pau de quem??? Quêeeeee? C.A.R.A.L.E.O. What´s porra is that???



Eu nunca, grife-se, eu nunca tinha ouvido falar essa frase, esta expressão. Aliás eu não, todas nós na mesa do bar. E eu fiquei com a frase dela ecoando na cabeça: “Pau de correnteza nunca maissssssss”.

O que seria isso? Ai. Meu. Deus. O que seria esse ser denominado “PAU DE CORRENTEZA”? Eu deduzi, imaginei mas queria saber mais. Que descoberta incrível aos 40 anos!

O tema da mesa de bar passou a ter apenas um foco: O PAU DE CORRENTEZA. Queríamos, todas, saber mais sobre as características e o comportamento de um pau de correnteza ou “do pau de correnteza”.

O que é para uma mulher (ou um homem), ter um pau de correnteza na sua vida?

Bem, senão vejamos, “é como ter um nada” ou melhor, um pau apenas, na sua correnteza.

E ela prosseguiu. O pau de correnteza é como ter um ser “ao seu lado” (muitíssimo entre aspas, porque ele fica só figurando), “que se encosta e fica” (caraí ela encenou a situação, fez de conta que era um pau de correnteza encostando-se sorrateiramente e encaixando devagarzinho e quietinho em meu ombro e depois ficando imóvel, e eu, eu, logo eu que tenho uma mente putamente fértil, fiquei imaginando a cena e rindo horrores com o depoimento dela). E ela ainda finalizou: entendeu amiga???

Que papo doido e engraçado! Eu ri até chorar, lógico. Mas continuando sobre o pau de correnteza, por não ter uma função, uma atribuição própria, o pau de correnteza atravanca o fluxo das suas águas.


Este “ser existente” não só não soma, como faz marola contra o fluxo, ou seja, atrapalha pacarai. Ele propicia o acúmulo de lixos e dejetos que descem rio abaixo. Ele ocupa espaço indevidamente, te intoxica, atravanca os seus caminhos, interferindo na fluidez da sua vida. Ele incomoda mas parece não estar nem aí pra isso. Sem o menor pudor (um pau totalmente despudorado e profano), se sentindo, sem sentido e sem dar o menor sentido a sua existência, cola em você.

E, essa mesma amiga, inspiradérrima por sinal, como sempre, finaliza com um post que ela leu em algum lugar: “E quer saber, agora o meu status é carreira solo com algumas participações especiais!”



A.D.O.R.E.I!!! Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Enquanto a nossa dupla amorosa não nos encontra (sim, porque somos um achado né?), o status acima é infinitamente melhor do que ter ao lado um pau de correnteza!

Por um mundo com menos pau de correnteza e mais participações especiais!!!

  



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Porque toda mulher é uma bruxa...


Bruxas, travessuras, gostosuras, fogueiras e revolução...

Estava pensativa fazendo musculação logo cedo na academia e um professor (figuraça) me abordou e disse com um sorriso: PARABÉNS PELO SEU DIA!!! De pensativa passei à reflexiva e desta para intrigada. Acho que vários pontos de interrogação saltaram dos meus olhos. Ai. Cacete! Ando tão distraída... Que dia é mesmo hoje??? Vejamos, dei uma vasculhada no arquivo da mente, dia das mães? Não! Dia da mulher? Já passou! Dia do psicólogo? Foi em agosto. Ai, meu aniversário? Mês que vem, não, não, não! Que dia é mesmo hoje? Nos meus arquivos nada conferia com algum dia que fosse digno de um parabéns... Perguntei levantando as sobrancelhas de lado: “Pelo que mesmo hein???”. E ele engraçadinho e realizado, um cara um tanto burlesco, disse: FELIZ DIA DAS BRUXAS!!!

Puta que o pariu!!! Como podia ter esquecido? Que elogio! Dia das bruxas né menino? Hoje então é comemorada a festa pagã, conhecida internacionalmente por Halloween. Na versão original não tinha relação com as bruxas, mas os significados foram se mesclando, atualizando e hoje tem basicamente duas origens. A origem pagã do povo celta,  que tinha como objetivo prestar uma homenagem aos mortos. Para os celtas, o lugar dos mortos era um lugar de plenitude, aquela dita felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. E, a versão cristã, chamada All Hallow’s Eve (Vigília de Todos os Santos), que começava no dia 31 de outubro e ia até 1º de novembro, até ser denominada atualmente de "Halloween".

A atual celebração da festa de Halloween, pode ser identificada com características de folclore acerca da bruxaria. Fantasias de bruxas, adereços vinculados à morte, monstros, abóboras, fantasmas, esqueletos, aliás, todos os nossos fantasmas e as fantasias que povoam as nossas mentes foram acrescidos à ornamentação da festa.

E como tudo se atualiza a se mistura como podemos ver na história do “Dia das Bruxas”, ao invés de bater de porta em porta dizendo “trick or treat?” (travessuras ou gostosuras?), para ganhar doces e balas em troca de nada aprontar contra meus  vizinhos, estava eu então pensando em sair às ruas hoje a noite, com aquele vestidinho preto básico e sexy e um chapéu de bruxa, exigindo cervejas e petiscos e, em caso de não receber, farei travessuras. O que acham? Rsrsrs.

Ah mulheres... Então, voltemos às bruxas. E as bruxas?

Apesar da expressão “Dia das Bruxas” ter sido adotada como uma tradução do Halloween, há uma ligação com a feitiçaria que ganhou força na Europa na Idade Média. Nesta época, as mulheres que colocavam em prática sua sensibilidade, sabedoria e intuição (e diga-se de passagem os livros "perigosos"), através de soluções alternativas para todos os males, pelo bem da sua comunidade, eram tidas como praticantes de “magia” e, foram intensa e violentamente perseguidas e lançadas nas fogueiras. Já no século XX,  a expressão "caça-às-bruxas" adquire uma expressão política, em que os EUA perseguiam toda e qualquer pessoa que julgassem ser comunista.

Que mulher nunca lançou mão das suas “magias”? 

Que mulher nunca desejou uma ideologia política que promovesse uma sociedade igualitária? 

Que mulher nunca curou a dor de um filho com seus mágicos beijinhos? 

Que mulher nunca enfeitiçou um homem (ou outra mulher) com poderes misteriosos, os quais ele (ou ela) jamais compreendeu? 

Que mulher nunca usou  as suas habilidades e forças ocultas para conquistar algo que a desafie por trás do fogo? 

Que mulher nunca colocou a sua vassoura no nariz de outra bruxa para mostrar o seu poder à concorrência?

Que mulher não dá sempre à sua vida aquele toque mágico, especial, ininteligível para se fazer insubstituível em cada ato da sua existência? 

Que mulher não possui mil faces e fases secretas para revolucionar o mundo? 

Que mulher não desafia a razão o tempo inteiro? 

Que mulher não é uma bruxa desde a hora que abre os olhos ao amanhecer até a hora de dar tchau com os seus cílios ao cair da noite?

Feliz “Dia das Bruxas” mulherada”!!! E viva a magia de ser mulher! 


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Texto da madrugada



Sons imprecisos, história sem definição, sem acordos ou acordes harmônicos, acordo sobressaltada na madrugada, pensamentos cortantes, chocantes, vibrantes, memórias atravessadas, estilhaços de sentimentos, afetos que me afetaram, amores, escritores, professores, sonhadores, dilacerados, raros, aflitos, infinitos, partidos, rendidos, fundidos, fodidos, delitos, retalhados, maculados, escondidos, segregados, escritos, não ditos. Lutas internas e externas. Silêncio...

Olho tudo pelo retrovisor, torpor, acelero, sigo em frente, será? Antoine disse em Pequeno Príncipe que “quando a gente anda sempre pra frente, não pode mesmo ir longe...”. Ordem e progresso é o cacete!!! Pra quem é a ordem e onde está o progresso??? Ou pra que é a ordem e pra quem seria o progresso??? Trânsito intenso, fechada de ônibus, interdição, perpétua ou temporária, não importa, pior é admitir que o que nos governa, aplica a pena aflitiva da sua ausência. Desgovernos, desserviços, omissos. Sinais fechados, profanação, resignação, palpitação, exoneração...

Professores, tambores, rumores, vejam os ditadores!!! Bombas de gás, de efeito “moral”, balas de borracha atiradas, sem candura, ditadura, tragédia política lamentável no cenário atual. É sob o banal, o bestial cotidiano humano, em meio a tanto engano, que as nossas crianças se desenvolvem. Violência parece o certo, soberana, e o deserto?

No deserto “(...) não se vê nada. Não se escuta nada. E no entanto, no silêncio, alguma coisa irradia... O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço nalgum lugar.”

Procuremos por mais poços!

Paro, resfolego e olho para nossa humanidade, mundanidade e bestialidade. Ainda não vejo poços, mas estamos no caminho, acho. A beleza está onde ainda não se vê.

Mas, como ressaltou o mestre das crianças Saint-Exupéry “Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse a mil milhas de todos os lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta.”  E, foda-se, escrevamos uma nova história, antes que o silêncio seja feito e efeito da ausência de voz em nossas gargantas, este com grifo da autora. E pra quem tem sede do que ainda importa... é bom molhar a garganta.

“- Tu tens sede também? Perguntei-lhe.
Mas não respondeu à minha pergunta. Disse apenas:
- A água pode ser boa para o coração...”






quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Princesas e pelejas


Vento forte é sinal de mudança, ventania então é pra deixar tudo de pernas pro ar. E deixa mesmo. Fosse calmo as nuvens não traziam chuva e depois dessa, o sol não chegaria. Precisa de vento, muito vento… Hoje pela manhã foi assim. O tempo virou no início da semana, mas só hoje é que as mudanças ocorreram e junto com elas, silêncio no tribunal. A vida precisa disso, um pouco de mentira, de cinismo, de coisas fora de ritmo e lugar, e assim, talvez eu entenda alguns discursos e leia alguns acontecimentos, talvez, ainda não sei, preciso ouvir o eco do meu silêncio.

Aí lembrei que a primavera chegou, quase bela, trazendo às vitrines, às ruas, vestidinhos de princesas, coloridos, floridos, estampados e o sonho da estação das flores, com o desejo que tudo floresça e pareça tão lindo quanto esta época.  Mas, como tudo na vida, tem a parte II. Então vejamos, que merda nos aguarda nessa reflexão de primavera, princesas e pelejas?

Essa síndrome de princesa, a necessidade de que a vida imite os contos de fadas, já virou na verdade um transtorno na vida de cada um de nós, homens e mulheres, mortais, já que não somos deuses, nem semi-deuses e não cabemos em contos de fadas, se é que eles ainda cabem em nós. Ainda bem que não, acho!!! Eles são tão pequenos e insuficientes diante da complexidade de nossas demandas afetivas, emocionais, psicológicas, sexuais! Como realizar tamanha incompletude???

“Bela, acorda!!!” Acordei com esse vento,  berros e um chute na bunda do meu inconsciente, que continuou: “abra a porta, um novo momento se abre diante de nós, você precisa escrever sobre isso!”. Eu juro que tento escrever de forma séria para elevar o assunto e falho sempre, miseravelmente. Bela e às vezes fera, quando necessário, adormecida, quase nunca.  O fluxo da conversa seguiu, num papo descontraído, com a conclusão de que o complexo de cinderela já era, fora atualizado pela história do filme "Uma linda mulher". Gata borralheira jamais, seja uma gata na esteira. Rapunzel presa na torre só pode ser uma piada de mau gosto. E as tranças viraram cordas que a levaram à escaladas bem mais radicais. A mulherada de hoje é adepta mesmo da prática de rapel. E a Rapunzel? Se estrepou ou teria sido o príncipe que... Bem, dizem que ela pegou piolho, cortou as madeixas e trocou o príncipe por uma mulher. Com o que sobrou das tranças, o príncipe que era "encantado" virou um transviado. Ou um viado? Não se sabe ao certo...

Oi????  E onde estão todos os princípes, os sapos, os beijos que acordam as princesas da Disney, os contos de fadas, as fodas que contam, ops???  Está na hora da menina dos sapatinhos vermelhos desfilar linda como um diabo que veste Prada. Branca de neve é o caralho! Seja mesmo a branca (ou preta ou índia ou cabocla) de verve!!!! Foda-se, não importa a cor. Dormir com sete anões, nem pensar!!! Com um já seria bizarro!!! Demilivre… A mulher de verve (e não de neve que se derrete toda) é uma entusiasta com a vida. É a mulher que usa o seu potencial de falar, pra fazer e escrever de forma espirituosa, inteligente, criativa e com senso de humor. O bom é ser a mulher maravilha, maravilhosa, elástica, que com toda a sua vitalidade e plasticidade, usa a sua flexibilidade e inspiração pra ser feliz e melhorar o mundo! Princesas de contos de fadas, não contam as fodas, principalmente as ruins… Então como vamos aprender com elas? Elas tem sina e destino, tudo prontinho! Pessoas reais tem vida e menos um pino!!! Tudo a ser construído de maneira singular, sem formas e fôrmas…

As princesas encantadas ficam a espera ou em função de um “princípe”, que a salvará pra todo e sempre do mal, elas costumam ser  pegajosas, piegas, mansas e bem suaves quando se trata de conseguir o que querem e vivem perguntando: “o que você quer que eu queira pra eu querer também?”. Que coisa mais flagelada e pollyannamente babaca!!! E as outras? As outras são as tais “mulheres malucas”, “instáveis”, “verdadeiras feras”, com pouca doçura (às vezes) e cabelos nas ventas (muitos), diante das insanidades do seu par, da proteção da cria e das injustiças do mundo.

Pois é, talvez seja perigoso ser gente de verdade. Ter que decidir por si e não colocar a vida na mão do outro, decidir pelos perigosos talvezes… E de quebra, suportar os reveses que a vida nos reserva. Dúvida, tormento, medo, é pra quem arrisca, morde a isca, ousa e petisca. É pros loucos!!! Aos medíocres, um brinde às “certezas” e às convicções  afetivas, políticas, de tempo, de espaço, de vida, que observa e  aguarda sobre a mesa, o prato pronto, imóvel, estático, equilibrado, fado, parco, porco, enfadado.

Os especialistas no comportamento humano e, dizem que estou entre eles, afirmam que as duas maiores necessidades do ser humano são: segurança e variedade. Putz, estamos lascados então, porque uma desqualifica ou praticamente invalida a outra. Se precisamos da certeza, da segurança, por que então sairíamos em busca de variedade? E se, estamos vivendo a procura do baleiro sortido pra pegar “a bala mais gostosa do planeta”, por que sentimos a falta do porto seguro? Bicho, ser humano é muito doido e os especialistas são seres humanos, produzidos por toda essa loucura também. Então, ninguém sabe o que diz...

“Já quis ser freira, e também puta”, é o que ouço de mulheres (e do meu próprio inconsciente) que, cansadas pela busca do equilíbrio, desejam a aposentadoria total das relações amorosas, simbolizada pelo celibato, casto ou, num corte oposto ao caminho do meio, a entrega a uma vida de luxúria e desejos profanos, o sexo pelo sexo, pelo prazer, por uma vida mais selvagem, ou, na hipótese mais capitalista lucrativa, o sexo pelo sustento, pela “boa” vida, inclusive modalidade bastante praticada também pelas mulheres casadas ou com um “único” parceiro.

Já no mundo masculino tenho ouvido que as mulheres “não querem nada”, “muito masculinizadas”, “elas estão se comportando que nem homens”, eles dizem. É, tudo bem, queimamos sutiã, brigamos por direitos equitativos, iguais jamais!!!! Não somos iguais aos homens e nem deveríamos pretender ser né mulherada??? A equidade começa no respeito às diferenças.

Do romantismo à putaria, as coisas seguem de forma bem bipolar por aí. Coisa de gente, acho. Muitos começam românticos na primeira parte da história, mas depois ouvimos a música completa, da Rosinha, parte I e II: ♩♫♪“Vou construir minha casinha, lá no alto do serrado, mas eu só levo a Rosinha, depois de tudo acabado.” Ai. Meu. Deus. Tudo tão lindo e primoroso, mas lá vem a segunda parte, como tudo na vida, e a música continua: ♩♫♪“Aí eu vendo essa meeeeerda, e encho o cú de dinheeeeeiro, e a Rosinha que se fôoooooda, eu vou morar num puteeeeeiro.”

Ahhhhhh merda, quanto desencontro!!!! Então, se amar é um talvez perigoso na decisão da entrega, ser amado é missão perigosamente duvidosa, já que depende também da entrega do outro. Aquele ditado nas negociações de que “tudo que é combinado não sai caro” deveria valer também pro amor né? Quanto disparate! Queremos tudo e nada, isto e aquilo, ser ímpar e par, singular e plural!!! Não é "ou isto" "ou aquilo". É isto e aquilo, piramos, ficamos atordoados! Não sabemos o que queremos e, quando achamos que sabemos, a vida muda o nosso desejo. 

Pior ainda quando você não pretendia ou não quis entregar nada e saiu da história furtada de todas as suas vontades. Como, sem a nossa autorização, o outro pode nos tirar o sono, nos levar o apetite, assaltar a nossa paz e sequestrar o nosso coração dessa forma?

Puta que o pariu vida!!! Ora somos mendigos esfomeados com a mão estendida, ora somos a mão que doa e que ergue. Ora somos assaltados de nós mesmos, outras vezes, bandidos atormentados roubando a paz e a lucidez alheia, mas, quase sempre,  perturbados  pela falta que nos move ou pelas sobras que nos entediam a cada dia.

Princesas, pelejas e...Hey!!!  Desce mais umas cervejas!

Mas, já que é primavera, e a Rosinha???





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Por trás das "celas"


Hey, a vida prega peças mesmo. Tenho uma história pra contar de uma super querida, mas que poderia dizer que é a história nossa de cada dia na interseção do mundo real com o virtual. Cometi um ato falho. Aliás super falho. Sempre faço essas merdas!!! Que falta meu conjunto de parafusos completo faz... Segundo Freud,  o ato falho não representa um erro, um equívoco, uma falha comum, há algo, um significado mais profundo que precisa ser analisado. E quer saber, da minha parte, há mesmo! É como trocar o nome do marido pelo do amante. Tem um significado singular ou não tem???

Bem, melhor eu contar o caso. Ela baixou um aplicativo que permite que, em um raio de 500 metros, todas as pessoas que estão conectadas ao Facebook possam aparecer em sua telinha do celular e, caso ela “curta” a pessoa e ocorra a reciprocidade na curtição, uma tela se abre para que eles possam conversar. Apareceram conversas com gogoboys até caras que já iniciaram o bate-papo perguntando se ela fumava maconha. Ué, o que importa é apresentar o seu currículo e saber o do outro pra achar a tal cara metade que, juntando com a outra se tornaria então uma cara-de-pau inteira, com ou sem maconha, com ou sem dançarinos de sunguinha (pequenas e apertadas) no novo cenário da sua vida. Ok, sem moralismos babacas!!! Tem muita gente falando a "verdade" sobre si mas também alguns contadores de histórias, ou melhor, estórias. Conheci um ao vivo e a cores e que também tinha um "currículo" no site de relacionamentos "Par Perfeito". Figura única! Lá ele dizia ganhar mais que um promotor de justiça e na vida real era aquele cara tipicamente alérgico ao trabalho, acordava já mergulhado num balde de maconha e não sabia o que era trabalho fazia bastante tempo, apesar de se dizer empresário. Coisas da vida, ou melhor, da era virtual. Tem gente com foto no perfil fazendo quadradinho de oito e que diz ler Foucault... Bicho não dá, fica feio forçar a barra assim, faz isso não!!! Aliás que bicho daria se isso fosse possível? Tem coisas que são como água e óleo, não se misturam, quadradinho de oito e Foucault é uma delas.

Não acredito em posições radicais e isoladas, mas alguma coerência e razoabilidade ajuda a dar crédito aos pretendentes virtuais. Aliás, gosto muito de variar tudo, posições, papéis, opiniões e é claro, contextualizá-las rsrsrs.  Se por um lado as ferramentas digitais, as redes sociais, virtuais, aplicativos, sites, programas de relacionamento e blablabla são facilitadoras para aprofundar a conversa e permitir encontrar afinidades, por outro deixou a desejar no encontro do olhar, no gosto do beijo, no cheiro da alma, na proximidade do contato e do abraço profundo, aquele que sentimos o coração do outro bater junto com o nosso. E andar de mãos dadas (e suadas de nervoso), comer pipoca no cinema fazendo barulho, ficar com vergonha e ruborizar, rir juntos ou atrasados da mesma piada??? Tem preço não! É lindo demais!!!

Em algum momento, fiz uma intervenção que dizia a ela algo do tipo: “então me preocupa você viver grande parte da vida atrás das celas do computador e do celular”. Celas???? Eu disse celas!!! Sim, celas são prisões e isso é privação de liberdade. Tudo que priva a nossa liberdade nos captura, nos reduz, nos limita e é claro, afeta o mundo de possibilidades que poderíamos viver, ver, escolher, sentir...

Enquanto estamos vidrados na celinha, ops, na telinha, a vida passa a nossa frente e não sentimos, não vemos a presença do outro, nos perdemos do real e ficamos imersos, mergulhados no mundo da imaginação, vivendo mundos que desejamos estar, toques que queremos sentir, degustando desejos que nos fazem salivar, viagens que sonhamos fazer e querendo ser amados por um ser imagético que ao nosso lado não está. E se, perguntei a ela, no momento que você está obcecada na telinha, o amor da sua vida passasse ao seu lado e você nem o (re)conhecesse, ou melhor, nem se desse a chance de conhecê-lo??? Provoquei: a sua obstinação por conhecer alguém pelas ferramentas virtuais não poderia cegá-la para o mundo real???

A porra do “E SE” sempre espreitando a nossa vida...

Quando as reflexões já davam loopings na minha cabeça e antes que essas manobras acrobáticas de pensamentos detonassem por completo o meu cérebro, achei rapidamente um papel e caneta pra escrever  esses  fragmentos dilacerantes que inundavam a minha mente. Beleza, me salvei, vou elaborar, cheguei em casa, vou escrever assim que, depois de encher o filhote de beijos, ele adormecer. Meu filho (de 7 anos)  então, pede o celular emprestado e ao olhar para a telinha do celular vidrado diz: “coitadinho de você Pou, eu estava lá fora, no mundo sabe, vivendo?” É, vocês não sabem, mas o Pou é um serzinho que parece um cocozinho, que toma banho, que tem sentimentos, que cresce, que troca de roupas, que fica na moda, que come, enfim...  Tipo um tamagotchi, se é que isso ainda existe. É um ser “de verdade”, capitalístico e vivente como cada um de nós, acho.

Puta que o pariu, eu pirei!!! Como assim??? Meu filho, tem uma porra qualquer feia pra caraleeeeô com cara de cocô dentro do celular, do meu celular,  que ele estima e cuida, como se um bichinho de estimação fosse e que, ele se justifica pela ausência pois “estava lá fora, no mundo sabe, vivendo????????”. E o pior, me tornei avó de um ser virtual, sem saber, e nem simpatizei com ele.

Pára essa merda que eu quero descer. Ficou tudo esquisito!!! As pessoas passam mais tempo na frente das “celas”, ops, das telas, teclando, se comunicando, trabalhando, se divertindo, "namorando", se conhecendo, do que de fato se experimentando, se ouvindo, se acariciando, se olhando, se energizando de contato, se saciando de beijos, trocando o magnetismo das almas, sentindo coração com coração.

Nada nada nada, nunca nunca nunca e, ainda bem, vai substituir o brilho de um olhar, a doçura de um sorriso, um cheiro gostoso, um beijo saboroso, um abraço intenso, um amor imenso, um sexo envolvente, a presença da gente!

Que assim seja, com menos celas, teclas e telas. Mais coragem, paisagem e calibragem, de cenas reais é claro!!! As reflexões de Deleuze nos ajudam a conduzir novos movimentos, traçando o vir-a-ser do futuro, através de ações revolucionárias, linhas de fuga, espaços de novos respiros, ares, lugares, em busca de novos sentidos e paisagens. Eis a revolução!!! Quais são suas linhas de fuga, das celas, das normas, do vigente, dos padrões? Eu quero "medianeras" (veja abaixo o significado), e você???

E pra quem é cinéfilo como eu, a minha dica pra aprofundar a reflexão vai pro filme “Medianeras”. No Brasil o título ficou conhecido como:  “Medianeras: Buenos Aires na era do amor  virtual”.

Já assisti 3 vezes. É um belo filme argentino que questiona e problematiza, de forma bastante inteligente, a cultura virtual dos relacionamentos e mergulha no tema solidão e todas as facetas das suas linhas de fuga.  Pra quem não sabe, medianeras  é o nome dado a aberturas ilegais de janelas nos edifícios, também chamadas de paredes cegas.  Na Argentina é proibido por lei abrir janelas laterais, mas as pessoas descumprem a ordem, em busca de mais claridade, um apartamento mais arejado, em suma, de uma melhor qualidade de vida.  

Essa é a grande sacada e ponte que o filme faz com a vida. Vale muito a pena assistir!!! A obra recebeu os prêmios de melhor filme estrangeiro e melhor diretor no Festival de Gramado de 2011. Espero que aproveitem!!!





sábado, 1 de junho de 2013

Dia do amor, sem fórmula por favor!



Hoje eu acordei com vontade que a vida me dissesse o que eu terei vontade de fazer. E tem sido quase sempre assim. Faço planos sobre o trabalho, cursos que quero fazer, viagens, programações de lazer, orçamento, reforma da casa, mas sobre o coração, não mais...

Em minhas explorações pela estrada afora, tenho aprendido muito, às vezes em par, muitas outras em carreira solo, o quanto o amor não tem fórmula, não tem planos, não tem metas, nem explicação e tampouco desafios, o amor simplesmente é, está lá, para ser sentido e vivido doce e livremente.

Não sei se vocês conhecem a origem do dia dos namorados, mas vale a pena recuperar o finalzinho da Idade Média, quando o bispo Valentim lutou contra as ordens expressas do imperador Claudio II, que havia proibido o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes. Será? Talvez né, os solteiros estão na pista pra "negócio" e conseguem tocar a vida sem bengalas, usufruindo apenas da sua própria companhia kkkkk. Bem, porém, além de continuar celebrando casamentos, ele se casou secretamente, apesar da proibição do imperador. Logo foi descoberto, preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, as pessoas militaram pela causa do amor, enviando à Valentim flores e bilhetes dizendo que ainda acreditavam no amor. Ao aguardar confinado o cumprimento da sua pena de morte, Valentim, como sempre desobediente às regras (ainda bem), se apaixonou pela filha cega de um carcereiro (olha a não exigência da perfeição do amor) e, milagrosamente (coisas do amor), ela voltou a enxergar, talvez para conseguir ler a mensagem que ele lhe deixaria (grifo da autora, eu). Antes de ser executado, Valentim escreveu um bilhete de amor para ela, na qual assinava como “Seu Namorado” ou “De seu Valentim”. Esse momento comemorativo resgatando o valor do amor foi importado por nós, porém com uma pequena mudança, comemoramos o dia dos namorados em 12 de junho (ao invés de 14 de fevereiro, o primeiro Valentine´s Day)  por ser véspera do dia de Santo Antônio, o tal santo português que tem fama de santo casamenteiro.

Pois é, vez por outra, eu e minhas amigas, de forma gaiata e despretensiosa, pra falar a verdade, escrotamente, ficamos analisando os casais que vemos por aí e o quanto cruelmente achamos, com a nossa cabeça de abóbora, que eles "descombinam". Ah olha aquele cara lindo, sarado e bacana com a gordona na praia, que depois de tomar uma banda com as ondas que vem em vão, arruma o biquininho pagando peitinho, comendo areia como se fosse paçoca e é claro, transbordando todo o seu bacon para muito além do seu figurino. Na boa véi, eu não conheço o inferno, mas acho que essa deve ser uma das visões ou perspectivas de lá. Caraí, o que aquele homem viu naquela mulher??? Perguntamos com aquela pontinha (na verdade pontona) de inveja!!!

E quando vemos aquela bela com uma fera? Ela linda, inteligente, assertiva, com covinhas pra lá de sensuais que acabam de desenhar o seu lindo sorriso, com aquele ogro, barrigudo, grosseiro, que a trata como se ela fosse um esboço de nada e mesmo assim, ela faz tudo por ele, prioriza estar com ele, paga uma hiper paixãozona dizendo eu te amo, você é tudo pra mim, até flores ela envia pro sujeito, enquanto ele mal consegue dizer que gosta da companhia dela. Ele troca tranquilamente um jantarzinho íntimo que ela preparou (e o espera vestida com uma lingerie very very a lot sexy) para tomar cerveja até cair com os coleguinhas que ele mal tem intimidade do trabalho. Arf!!! Vai entender sobre o amor, pois é,  ninguém entende, é por isso que se chama AMOR!!! Porque não é racional, não tem fórmula e nem explicação. Ué, o valente militante Valentim não se apaixonou pela ceguinha, filha do carcereiro dele? Pois é, o amor é assim...

Se fosse porque a pessoa é o máximo em algum aspecto ou todos, seria somente admiração. Podemos admirar muito alguém e no entanto, não amar.  Se fosse porque o outro tem uma química incrível com você na cama, seria tesão. E vamos combinar, dá perfeitamente para ir para a cama, ter uma ou várias noites incríveis, sem amar a pessoa. Se fosse porque o outro te entende, te apoia e te aceita do jeitinho que você é, seria exclusivamente amizade. Pois é, temos muitos amigos e amigas que amamos muito fraternalmente (profundamente e pra sempre) e que, nem por isso, se transforma numa história de amor afetiva-sexual.  Se fosse porque vocês conversam por horas a fio, curtem muita coisa em comum e adoram estar juntos seria uma grande identificação. Nos identificamos pracaralho nessa vida com muitas pessoas que não passam a ser o nosso par amado.  Enfim, é claro que essas questões podem estar contidas em pessoas que se amam, mas se pararmos para pensar, nem sempre... Aliás, muitas vezes não. As qualidades ou vantagens acima não são condições sine qua non para se viver um GRANDE AMOR.

É por essas e outras nas minhas desvairadas andanças que há muito não quero porra de fórmula de amor nenhuma. Torço para não encontrar (ao contrário da música do Léo Jaime) a fórmula do amor. Quero ser amada pelo meu jeito torto, pelas minhas insensatezes, cegueiras, por minhas chatices e imperfeições, pelos meus momentos difíceis, pelas minhas batatadas, bolas fora e tudo que me torna humana e imperfeita e que, por isso mesmo, me fazem ser amada por alguém de um jeito singular. É lógico, diga-se de passagem, que tenho muitas outras coisas para oferecer (as minhas covinhas são lindas, é o que diz um amigo meu kkkkk), mas o bônus será somente pra quem se encarregar do sombrio ônus. Ah o amor!!!

Podem reparar, quando amamos e/ou somos amados por alguém, podemos ouvir as mais descabidas descrições: "adoro o jeitinho que ela mexe com o cabelo e faz os dedinhos dançarem enquanto fala" (e o pior, foda-se pro conteúdo do que ela fala, a forma que fala é linda), "amo o jeito com que ele esfrega as pernas na cama quando acorda como se fosse um boneco deitado na neve" (foda-se se ele tem o corpo sarado e lindo nu ou não, o que importa é o que aquele corpo faz em váaaaarios sentidos), "gosto do jeito que ela pede apontando freneticamente pro copo pra completar a cerveja" (outro foda-se pra saber se ela está bêbada falando um monte de merda), "gosto do jeito bronquinha dele quando está com raiva" (mesmo que ele tenha estragado o programa de vocês com a chatice dele).

Enfim, eu poderia ficar descrevendo inúmeros  absurdos de casais que quando vivem o amor, quando descrevem o outro, colocam uma pitada de pirlipimpim em alguma coisa totalmente ordinária aos olhos de qualquer um. Mas sabe o que eles veem? O extraordinário no outro. E vamos combinar, essa porra só pode ser o tal do amor.  Na verdade, para além daqueles que tem admiração, amizade, identificação, química, não sabem dizer o "porque" amam alguém, simplesmente amam e simsimsalabim ponto, entendeu (você com certeza não) ou quer que eu desenhe?

Então mando a fórmula do amor para a puta que o pariu. Não quero mais ficar fazendo balanço de porra nenhuma, onde foi que eu errei, o que é que eu fiz a menos ou a mais, o que tem de defeituoso em mim... Quero o amor livre, leve, inusitado, imperfeito e inexplicável, do jeitinho que eu acho que ele é! Quero ser amada pelo que sou!  E vamos combinar, isso só se descobre com o exercício da autoaceitação, do autoamor, isso é autoestima e nisso, acho que estou virando Phd.

Um brinde aos valentes, que amam sem saber o porque e ainda acreditam no amor! Porque quando se ama alguém não serve outra pessoa, é aquela e somente aquela, que é insubstituível pra fazer casa em seus braços, morar no seu peito, dormir na sua cama e habitar os seus devaneios.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

“Timing” ou “táimim”



O que é timing? Talvez você, pessoa amiga leitora com saco pra ler o meu blog, esteja se perguntando o motivo da utilização de um termo em inglês. Não, não é nenhum culto à língua estrangeira, não, não é uma apologia à americanização da nossa língua...

Vamos aportuguesar essa merda, odeio essa história de ficar escrevendo e reproduzindo os padrões da cultura americana, mas tenho que admitir que o termo “timing” envolve ziguilhões de significados em uma única palavra, coisa que dificilmente conseguimos em nossa rica língua portuguesa. Então, resolvi traduzir da minha própria cabeça de paçoca, que esfarela em mil e um pedacinhos de tanto pensar: TIMING = TAIMIM = TÁIMIM = TÁ EM MIM = ESTÁ EM MIM = É O MOMENTO QUE ESTÁ EM MIM =  ESTÁ COMIGO = MOMENTO QUE ME SINTO UMA PESSOA PLENA!!!

É o tempo oportuno, o momento mágico, a hora “perfeita” para algo, alguém ou alguma coisa acontecer...
Tempo, oportunidade, magia, encantamento, espontaneidade, "borboletas no estômago", olhos brilhando, pele arrepiada, coração vibrando, mente no compasso do momento... Isso é o timing!!!! Esse é o timing e é muito fácil identificar...

É o momento que tudo faz sentido e pode ser sentido inteiramente em seu íntimo na relação com o outro... com o mundo... com a vida... com as coisas.

É o presente majestoso, é a ocasião aproveitada que quase parece uma coincidência, tipo “coisa do destino”, que com o seu toque de fantasia, faz iluminar aquele momento para que tudo brilhe e resplandeça em um encaixe “perfeito”.

No mundo da fotografia, é aquele clique que não pode ser dado nem um pouquinho antes e nem um décimo de segundo depois, mas sim quando aqueles pés saem do chão num pulo vibrante e, o fotógrafo caça-timing consegue capturar aquele momento no ar e clica!!! Bela foto que irá se eternizar no tempo cronológico.

Timing é quase o tempo emocional das coisas, a alma do tempo e o tempo materializado em sua melhor performance. Pra mim isso é timing! Está em mim, está comigo, eu posso sentir aquele momento inteiramente. Às vezes fica ali por um instante apenas! É aquela roçada no nariz sem querer e que aproxima o beijo num magnetismo inexplicável, aquele olhar que diz tudo que vai acontecer nas próximas horas, dias e anos... Às vezes precisamos esperar algum tempo pelo melhor timing, a maior abertura, para que, quando o portal entre a terra e o inexplicável abrir, o inesperado magicamente possa acontecer.

É aquele filho que chegou inesperadamente e que você recebeu de braços abertos porque sabia que ele mudaria sua vida pra melhor e pra sempre. É aquela viagem que finalmente você vai fazer no seu momento mais bacana, aquele sorriso que recebeu na hora mais apropriada, aquele abraço que aconchegou seu coração no momento que você mais precisava, aquela grana que caiu na sua conta como uma brisa num dia quente, aquele beijo surpreendente quando você não esperava nada mais daquela noite...

O contrário disso, quando perde-se o timing, é quando você investe naquele job, arranca o melhor do seu cérebro para a criação daquela porra de ideia brilhante, mas... inoportunamente, perde o prazo e não consegue o reconhecimento da sua produção. É quando o beijo perde o encanto, a espera se transforma em pranto, se desespera e perde a esperança, obviamente sem nenhum espanto. É aquela famosa história que já se transformou em dito popular e que deve ter origem em alguma placa de caminhão ou porta de banheiro: quando o cara não te dá assistência, você perde a paciência e ele a preferência. Abre-se então concorrência  e você se valoriza com sapiência. Pois é, isso é tão bizarro mas tão realístico que é quase uma ciência comprovada rsrsrs...

Minha analista recuperou brilhantemente as sábias palavras de Lacan, psicanalista francês, a respeito da tripartição do nosso processo psíquico, quando o primeiro momento é o "instante de ver", o segundo é o "tempo de compreender" e o terceiro é o "momento de concluir". Traduzindo em miúdos na gíria popular carioca (e que Lacan não se contorça no túmulo com a minha reinterpretação): "Aê, se liga!", depois "beleza já é" e finalmente "partiu!". Já quando se perde o timing, o sujeito primeiramente fica "bolado" (momento de incompreensão), depois "vacila" (marca bobeira, faz merda) e finalmente "deu ruim" (perdeu, deu errado, fudeu, fracassou, o tempo fechou, a possibilidade não se concretizou).

É quando o casal namooooooooooooooooora anos a fio e quando se abre os olhos, perdeu o timing do casamento, da promessa de vida a dois, o sonho dela mofou, a estrela dele se apagou e ela foge com o primeiro lobo mau de bicicleta que passa (sim, não é princípe à cavalo e nem um executivo bem sucedido  by imported car). E  rola o casório depois de 6 meses de rompimento do clássico loooooongo namoro com o eunuco anterior. 

Aliás, o eunuco merece um destaque nesse post. Eunucos quase sempre perdem o timing... No sentido físico, eunuco são homens  castrados, ou seja que teve os testículos  e/ou o pênis removidos. No sentido figurado, o termo é usado para se referir aos homens “fracos”, sem iniciativa, “inútil”, impotente. No sentido bíblico diz-se de homem pacífico e não necessariamente sábio, porque perde o timing, já que costuma desenvolver a pacificidade. 

Bem, depois desse parênteses sobre os eunucos, voltando... Aí, o lobo mau, cheio de atitude, sacou a importância do timing e estremeceu as bases da mocinha de figurino " todo vermelho sangue" (do chapeuzinho à lingerie)  e então ambos viveram o seu momento de plenitude. Ele com a forte pegada e com muito apetite, disposto a ouvir melhor, enxergá-la melhor e comê-la melhor (devido as suas respectivas orelhas grandes, olhos bem abertos e desejo voraz) e ela querendo um "algo mais" em todos os sentidos, tipo quero ser sua e bingo, o momento oportuno, inusitado rolou pros dois.... Pois é, tudo tem o seu timing, o seu tempo de estar inteiro, o momento que tudo faz sentido nos encontros da vida ou não...

Porran, sabe quando você se arruma toda e o cara perde o timing? O batom começa a derreter, a maquiagem desbota, a roupa amassa e você já começa a ficar com preguiça de sair, bate o soninho e a noite torna-se desinteressante porque aquele cara que você esperava, se atrasa muuuuuuuuuito pra tomar uma atitude... As suas amigas em qualquer bar por aí rindo escancaradamente ou um filminho com pipoca com o seu filho na sua cama quentinha passam a ser o encaixe muito mais que perfeito pra aquela noite do que aquela espera vazia. Véio já era! De boa, perdeu o timing! Whatsapp? What´s up ou o que está pegando? Pois é, nada!!! Esse é o problema, falta pegaaaaaaaada, não tem nada me pegando de jeito. E você chega a conclusão que não vale nem mais a pena responder as investidas virtuais: "oieee", "tá aí?", "tá acordada?", "tá por onde?". Estou passeando pela puta que o pariu enquanto o seu lobo não vem... Faça-me um favor! Ou pega ou não alisa.

Outra bola fora do timing é quando cada um vive o seu luto pelo término do relacionamento e depois das vidas refeitas e cada um no seu novo palco, alguma parte tenta desenvolver seu potencial mediúnico falando com o (a) falecido (a), encontrando gente morta e até “dormindo” com gente morta pra ver se é possível ressuscitar alguma coisa viva nessa história. “I see dead people” já é foda, necrofilia então nem se fala, é punk demais!!! Interagir com cadáver é complicado, você até pode se excitar com a ideia mas morto não reage. Cadê a alma que se perdeu com o timing de quando tudo ainda estava vivo? Ou espera o momento pra reencarnar ou se toca que perdeu o timing.

Timing é o tempo mágico que as coisas acontecem, é o tempo no sentido de oportunidade, pode ser que fique  lá apenas alguns raros segundos, pode ser que demore anos pra encantar mas tudo ainda precisa estar vivo. Quando perdemos o timing, deixamos passar a oportunidade ou nos antecipamos à magia dos acontecimentos... o encanto morre, desbota, sucumbe, é  o famoso “fudeu de vez”.

Observe o timing da vida, se não está em você no seu momento mais receptivo, não está inteiro em lugar algum, não se tornará pleno na sua vida. Então deixa essa merda pra lá! A sua intuição (que costumo definir como as coisas que sei mas que não faço a menor ideia de como sei),  saberá identificar os “timings” poderosos da sua vida, o que está em você plenamente em seu momento mais oportuno.

Tudo tem o seu tempo, cada coisa tem o seu momento e cada pessoa tem a hora certa para acontecer na sua vida!!! Sincronicidade, senso de oportunidade, intuição! E tenho dito, tem que ter o “táimim”!!! Só assim posso estar inteira com os outros, em tudo. Lançar-se ou recuar, não importa o que vai fazer, mas sim que seja no timing, que esteja em você! Ou "táimim"ou não está!