terça-feira, 30 de novembro de 2010

Paradoxo de aniversário

Hoje eu chorei

Chorei por todas as ausências, os abraços não recebidos, os beijos interrompidos, as mensagens e ligações que nunca chegaram e que não chegarão mais

Porque hoje é meu aniversário

Hoje eu sorri

Sorri por todos os abraços, o carinho, os beijos, as mensagens e ligações recebidas e que jamais serão esquecidas

Porque hoje é meu aniversário

Hoje eu acordei com uma vontade enorme de ganhar flores, então eu chorei de novo

Porque hoje é meu aniversário

Hoje então no meio do trabalho eu desci e comprei flores pra mim, girassol e rosa vermelha, dentre as minhas preferidas só faltou a orquídea pra completar o trio das prediletas e então, eu sorri de novo

Porque hoje é meu aniversário, eu amo flores e tenho mais motivos para celebrar do que por lamentar. Porque flores marcam os rituais de nascimento, união e morte, então eu estou confusa, porque coisas nascem em mim, se fundem e outras morrem…

Hoje é meu aniversário! Então eu posso chorar e rir a hora que eu quiser, porque hoje é o meu aniversário. E então eu estou estranha, cheia de nada, vazia de verdades, porque aos 37 anos nada faz sentido pra mim, porque hoje é o meu aniversário. Talvez algumas cervejas geladas, um abraço apertado do meu filho e bons amigos ao redor façam algum sentido pela data de hoje. Talvez essa simplicidade seja o sentido da vida... talvez.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desejo, divagações et cetera e tal

O desejo é um “cara” ousado, sem limite nem regra, que já chega tomando conta do seu corpo todo, da sua mente e sem que você possa decifrá-lo, é arrebatado por ele… Muitas vezes ele é inconfesso, insano, às vezes ele incendeia, outras é doce e raro. Em alguns momentos é lento, perpétuo e outros é denso, intenso. Porém, nunca tem lei e é sempre inexplicável, misteriosamente sem razão. Inexorável, implacável, incontrolável, assim ele é. Podemos não concretizar pela via da vontade, reprimindo as atitudes, mas ele, ele está lá, latente, ardente. Dizem que para se conhecer, o ser humano deveria aprofundar-se em conhecer os seus desejos mais tiranos. Eles são nossos guias anônimos, não confessos, e podem nos orientar ou nos sabotar por completo. Desvendá-los é um processo exigente.

Pois é, eu gosto de ter desejo, amo ser uma pessoa desejante, mas me sinto sem autonomia quando ele se manifesta. De certa forma, desgovernada, capturada por sua sedução, pelo encantamento que o ato de desejar provoca. Ei, isso é sempre uma aventura perigosa, duvidosa, incerta.

É lógico que só desejamos porque há carência, alguma coisa nos falta. Se não faltasse não desejaríamos, seríamos plenos, completos, perfeitos, um Deus. Portanto, desejamos porque somos finitos, imperfeitos, inacabados, incompletos, errantes… Jamais poderíamos saborear o gosto do vinho, tendo a boca sempre cheia dele.

George Bernard Shaw, dramaturgo, romancista, socialista e jornalista irlândes, falecido em 1950, já sabia desde essa época, que há duas tragédias na existência humana: “uma é quando nossos desejos não são satisfeitos; a outra é quando o são.” O cerne da ação da dramaturgia é sempre o conflito.

Quer saber, o ser humano problematiza tudo. Ô serzinho difícil! Se o desejo não é atendido, o filho da puta reclama, se é satisfeito entra em crise existencial. Tudo vira catástrofe. Se está sozinho, quer alguém bacana, interessante. Se está junto com uma pessoa legal, quer sair pelo mundo, se descobrir, analisar o que quer para sua vida. Porra! Ser humano “é muito complicado mesmo”, já dizia o Português do boteco quando mandou salaminho com queijo branco, enquanto havíamos pedido salaminho com queijo prato. Sim cacete, desejo é desejo e não tem muita explicação, queríamos assim, com queijo prato, e.x.a.t.a.m.e.n.t.e do jeitinho que desejamos, sem saber o “porquê”. O desejo não tem lógica, achamos que a química perfeita era essa: cerveja gelada, boa companhia, salaminho com queijo prato e pronto!

Acho que essa intriga em viver é o que me motiva a ser psicóloga, é tudo muito insensato. Tudo pode ser, tudo pode não ser… Tem um pouco de loucura nessa profissão, nessa escolha de trabalhar com esse objeto tão efêmero: o ser humano. A probabilidade das conexões entre as pessoas, a forma como elas se conhecem e se atraem, tudo nesse mundo gera questionamentos e mais ousadia em minhas ideias, tudo ferve em minha mente. Acho que é por isso que escrevo. Eu mesma, sempre efêmera nas minhas discussões, modifico as verdades que acredito a cada nova experiência vivida. O que acabei de falar já se modificou, hã, eu disse isso? Sou totalmente contestável, imprudente e insensata. Às vezes indecifrável até pra mim mesma.

Ultimamente ando muito sem juízo, me permitindo ser desafiada por valores e conceitos que construí pacientemente, para agora, descobrir que essa merda toda não vale nada. Agora estou aprendendo outras coisas, fazendo outras escolhas e experimentando novos desejos.

O problema do desejo é o tamanho, a dimensão e a intensidade dessa falta. Quando a fome é grande, tendemos a idolatrar a fonte de nutrição do nosso desejo, adulterando e divinizando o objeto da nossa fome. Por isso, de vez em quando é importante aprendermos sobre a plenitude sozinhos, tipo acampamento solitário, curtindo montar a própria barraca, cuidando de providenciar a própria comida, de férias dos outros e em conexão com os nossos desejos, saciados ou não, apenas identificando-os, acolhendo-os, ouvindo o barulho das nossas ideias e o eco dos nossos desejos. Passei um tempão experimentando fazer um monte de coisas que eu não costumava fazer sozinha. Viajei sozinha, fui ao cinema só, curti show sozinha e muitas outras coisas comigo mesma. Uma mixagem de medo e coragem, como uma sobreposição e combinação dessas forças num único som, em um novo repertório com novas nuances, tomaram conta de mim. Foi um período sensacional e voltarei a repetí-lo por muitas vezes e sempre. Me senti muito mais forte depois dessas experiências. Assim, andava tão saciada de mim mesma, que nem desejava desejar nada ou alguém. Não tinha fome, tinha juízo.

E agora? Agora esse tal de desejo me convidou pra dançar só pra me estontear. Sim, ando bastante atordoada com esse “cara”. Ele é novo, intrigante, interessante e me faz me sentir desejante e desejada. Gosto do jeito que ele sorri pra mim, com os ingressos na mão, me convidando pra vida. O nome dele? É DESEJO.

Nada mais sei sobre ele. Nada mais sei sobre mim mesma.