terça-feira, 23 de agosto de 2011

Entrega


Se me queres bem
Mas não me tens sempre
Te quero também sem amarra nenhuma

Mas que droga de sociedade
Que produz subjetividades
E diz que as almas tem que virar apenas uma

Gosto de dizer o que é bom pra mim
Porque o mundo é feito de diversidades
E não cabe imposição alguma

Então deixa tudo como está
A gente se encontra por espontânea conexão
Já que é suficiente quaisquer desejo que nos una

Quanto mais livres
Mais amarrados estamos, sem planos
Arrisco dizer que é um intenso amor que se aventura

Só não o chamo de amor perdido
Porque o encontrei
Porém bandido, me assaltou por desventura

Também não diria que é amor realizado
Pois parece não querer ser publicado
De toda forma me sinto tua

Por isso fico toda nua
Isso, fico toda nua!
Fico toda nua.
Toda nua...
Nua, tua, toda.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Do apogeu à apneia, o amor está puto!

O amor está puto! Ele vive uma síntese perturbadora nos dias de hoje. Os desejos se colocam em justaposição ou em contraposição. A “falta de tempo” como justificativa e a clara indisponibilidade emocional, condição offline daqueles que assim se colocam X os disponíveis e generosos que colocam a sua autoestima em queda livre, esperando que o outro mude o seu status para online e assim se conecte numa relação.

O amor está puto! Uma parte do amor é generosa e aceita a fome como condição de subsistência, a outra é masoquista, sofre e permanece faminta. Ainda assim, ele insiste em existir, não sabemos até quando.

O amor está puto! Condenado a viver pra sempre, embora se limite com a vida curta, o amor quer um último recurso. Não sabe bem o que fazer nos tempos modernos.

O amor está puto! Assim, entrou em colapso e, desesperado, sem falta de cuidado, sentou e chorou abraçado com a tristeza. Lamentou por ter sido tratado com tanta falta de gentileza e ausência de reciprocidade.

O amor está puto! Solitário, ele decidiu partir, mas não antes de procurar compreensão na razão das palavras. Burro? Não, não é. O amor é sábio, ele não é de graça, ele quer disponibilidade, carinho, atenção e reciprocidade, embora muitos insistam em dizer que ele é totalmente gratuito e incondicional. Então, voltemos a busca pelas palavras que possam socorrer o amor.

O amor está puto! E eu, particularmente, a autora desse texto, adoro brincar com as palavras, elas exalam sentimentos e tem vida própria na mensagem que meu cérebro envia para as minhas digitais. Elas dançam e rodopiam na minha cabeça despretensiosamente, da mesma forma que dizem por aí que sou escritora. E eu vou organizando cada uma delas delicadamente na tela do computador, enquanto afoitamente as digito. Coloco pra lá e pra cá, edito, busco outros significados e lá vão elas, redefinindo, desenhando outros código na minha cabeça e na dos meus leitores. Às vezes, um palavrão é insubstituível e nada daria conta de manifestar o que amor está sentindo, por isso ele está tão desbocado.

Afinal, o amor está puto! Então, procurou a letra “A” no dicionário, tal onde mora catalogado entre outras diversas atribuidoras de significados e significantes. Encontrou algumas palavras vizinhas que pudessem oferecer sentido a sua falta de sentido: apogeu, apodrecer, apoderar, apocalipse e apneia.

O amor puto então, atingiu seu auge, passou do timing, tomou posse e suspendeu a respiração, sufocou.

O amor continua puto! Diante de tais palavras, sucumbiu asfixiado de tanto egoísmo e hostilidade a sua volta. O amor pela primeira vez se viu covarde e, é claro, puto!

Do apogeu à apneia, o amor só queria um pouco de poesia. Quem sabe em outro lugar, algum dia. Por enquanto o amor só sabe que está puto e que, a partir dos encontros é que ele se transforma e assim, modifica o mundo.

O amor sabe que é dele que podemos extrair o melhor material que constrói a nós mesmos e consequentemente a um mundo melhor, por isso ele está tão puto!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Não há como voltar a ser como antes

Fui tua, foste meu, que mais queremos?

Ainda somos talvez por ontem ou daqui a dois segundos, algo que não sabemos: o que desejamos um no outro, o que queremos um do outro, as linhas de fuga de duas vidas que seguem lado a lado dispostamente atraídas. Pra que, por que, pra onde, como?

Uma mulher e tampouco um homem, não navega nunca no mesmo mar novamente, muitos peixes, seres viventes e banhistas mergulharam nessas águas, modificando os mares e os mergulhadores. Pitágoras já dizia: "um homem não pula duas vezes no mesmo rio". Nenhum dos dois é mais o mesmo depois da aventura do mergulho. As águas do rio passam e o homem se transforma. Então, pra que insistirmos em sermos como éramos antes? Não seremos!

Devemos aprender a gostar de ser como agora, depois de tantas experiências, mergulhos e aventuras. Esse é o aprendizado estruturante da vida, com todas as suas delícias e frustrações.

Pessoas me procuram em meu consultório me pedindo implicitamente em suas queixas: "eu quero ser como antes" e elegem determinada época e situação de sua vida, interpretada agora como feliz.

Eu sempre frustro as pessoas com as quais trabalho e convivo, a fim de ajudá-las nessa reedição. Eu digo um "não" estruturante: "situe-se, essa missão é simplesmente impossível no tempo e no espaço."

Não sejamos idiotas e não vamos agir como dois. Se você por acaso conseguisse ser como antes, o resultado trilhado por este caminho seria exatamente o mesmo, como agora, um ser frustrado a minha frente pedindo pra retroceder no tempo e no espaço. 

Então eu convido : "Quer aprender a usufruir do "ser" como agora?" "Quer tornar-se 'vir- a-ser' depois de antes e de agora, algo novo?"

Construo o meu caminho junto com aqueles que o cruzam, mais ou menos assim: 

Para ALÉM do cogito, o impensado
                       das experiências, o transcendental
                       do planejado, o inusitado!

Eu quero! Vem comigo inusitado, aqui tem espaço pra você! A nossa memória pode ser uma  interessante ilha de edição ao invés de ressuscitarmos um cemitério inteiro de tudo que não nos serve mais, contaminando todas as nossas novas experiências. 

domingo, 12 de junho de 2011

Agora nada!

Eu sabia que seria intenso me entregar
Eu sabia que seria intenso
Eu sabia que seria
Eu sabia
Eu queria ser amada profundamente
Eu queria ser amada
Eu queria
Eu apenas vivia com os sentimentos a flor da pele
Eu apenas vivia com os sentimentos
Eu apenas vivia
Eu morria de vontade de amar de novo
Eu morria de vontade de amar
Eu morria de vontade
Eu morria
Eu sonho em algum momento renascer
Eu sonho em algum momento
Eu sonho com alguém
Eu sonho
Nada agora parece ter sentido pra mim, tudo está vazio
Nada agora parece ter sentido pra mim, tudo está
Nada agora parece ter sentido pra mim
Nada agora parece ter sentido
Nada agora parece ser
Nada agora
Nada agora
Nada
Não se afogue...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Urbanita



Urbanita caminhava pela cidade procurando flores, poesia e alma
Mas somente encontrava coração duro, heresia e ausência de calma
Urbanita queria viver integrada à natureza
Mas se surpreendia com tamanha destruição e avareza
Urbanita desejava um pouco mais de vida
Mas o que via era a imitação de uma estátua viva
Urbanita adorava correr com os lobos
Mas por infortúnio acabava se deparando apenas com tolos
Urbanita não quer mais ser habitante da cidade selvagem
E almeja ser na floresta a mistura daquela paisagem
Urbanita se perde às vezes em desventuras
Mas certamente tem sabedoria para usufruir de suas melhores aventuras
Urbanita não quer mais receber apenas migalha
Porque sabe que merece o amor pleno ou o sentimento que o valha
Urbanita desperta!
É só deixar a porta aberta...

Um dia...

Um dia dei risadas até a bochecha doer 
No outro os olhos cerraram de tanto sofrer
Um dia não encontrei palavras para expressar a dor
No outro meu corpo manifestou a falta de amor
Um dia acordei e as minhas células haviam se degenerado
No outro dormi e os cabelos já tinham crescido de novo desgrenhados
Um dia me revoltei imensamente por não ter um filho
No outro lutei vorazmente por sua vida que esteve por um fio
Um dia acordei e visitei meu pai
No outro adormeci chorando seu luto pela vida que se esvai
Um dia fui a filha do meio
No outro senti saudades do irmão que se foi e anestesiei a dor que veio
Um dia amei alguém desmedidamente
No outro chorei a sua falta de entrega compulsivamente
Um dia agradeci por todo o amor que sinto
No outro lamentei profundamente por ele não ser correspondido
Um dia o sol estava a brilhar
No outro a noite não tinha luar
Um dia acordei triste com o fim
No outro brindei alegre ao novo início
Um dia fui tão feliz que o brilho dos meus olhos
Acendia lâmpadas e pedia bis
Em outro minha fênix incendiada ao chão
Desfalecia em meu corpo ardendo em febre de tanta solidão
Um dia sentia a vida pulsar intensamente
No outro, ensandecida, a memória se foi lentamente
Um dia abri os olhos e lá ainda estava a minha vida
No outro os fechei e não mais abri, era chegada a hora da despedida
É por isso que sempre digo: a vida é tão hoje e tão curta
Curta tão somente hoje o que amanhã já se encurta
Hoje é o eterno, amanhã talvez seja só saudade
Desperte-se antes de adormecer, aproveite antes de acordar
Um dia sonhamos com uma vida
No outro a vida é um sonho

domingo, 3 de abril de 2011

Quero, logo vivo!

Ultimamente ando um tanto confusa, meus sentimentos estão realizando um debate por aqui. Coisas do amor, existe um nó dentro de mim...

Sabe, conheço pessoas que conviveram com seres ditadores, que já se foram nas suas vidas, mas a ditadura, a instituição prisional, o próprio algoz, continua dentro delas. Elas continuam a viver numa prisão, só que agora sem celas.

Mantém valores e atitudes que correspondem ao seu tempo de institucionalização, a submissão ao ditador e, esquecendo da dor de ser objeto do desejo do outro, muitas vezes se tornam déspotas, querendo submeter outros ao seu desejo. Assim, passam a praticar o despotismo a que foram submetidas.

Essas pessoas perdem aos poucos a conexão com as suas emoções, se despersonalizam e congelam sentimentos. Certamente essas reações ajudaram a sobreviver aos tempos de prisionização. O problema é que a prisão é reproduzida a cada agenciamento das suas relações, mesmo agora em liberdade.

Lamento tanto por aqueles que cumpriram pena apenas por sua omissão. Seu erro foi somente deixar de querer e deixando de querer deixou de viver os seus desejos, passou a desejar o desejo do outro...

Tão bom admirar a sua criança acordando e dizendo: “Mamãe o dia já chegou, olha, tá chovendo, quero colocar as minhas botas e pisar nas poças de chuva pra espirrar água por todo lado e fazer pleque pleque!”

Tão fantástico roubar os sorrisos de todos os seus amados amigos e ser chamada por um deles, aos risos, de cleptomaníaca!

Tão mágico amar intensamente e poder dizer isso, sem ser julgada, ao mesmo tempo que se é correspondida!

Tão simples se deliciar com pequenas idiotices do amor, como ver o amado se espreguiçar pela manhã, fazendo movimentos de um boneco na neve, fechando e abrindo braços e pernas, deitado na cama.

Tão incrível rir sozinha frente as mensagens inusitadas no celular, daqueles de quem se ama.

Tão maravilhoso se emocionar com o próprio trabalho e poder se conectar com as lágrimas e sorrisos daqueles para quem e com quem se trabalha.

É isso! Sem prisão, sem celas, sem clandestinidade, quero meu coração pulando do peito (como sempre), meu pulmão inflando com toda a força, meu sangue ardendo nas veias e meu cérebro pulsando mais rápido que a luz.

Quero intimidade, calor, magnetismo, mistério, amor. Por que?

Sem isso, prefiro a morte em lugar da institucionalização. Meu desejo é a minha vida, minha liberdade é o meu desejo.

Minha emoção é tudo que tenho, o resto, o resto mesmo, são conexões, instituições...

A vida é tão curta e tão hoje, desatei os nós... eles não me servem pra nada, eu não vivo em instituições.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mulheres Vermelhas


Pois é, em nome do Dia Internacional da Mulher, eu comecei a escrever um poema que tinha contido uma poesia, que emocionava e tocava a sensibilidade. Mas, quando comecei a escrever a estrofe que fazia referência as 130 mulheres que foram queimadas nesse dia, lutando por direitos humanos, mais especificamente pela redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas por dia de trabalho, pela equidade salarial em relação ao trabalhador homem e pelo direito a licença-maternidade, a poesia sucumbiu, eu me indignei (pra ser mais sincera eu me emputeci) e o que seria um poema certamente virou um editorial militante, bem vermelho, manchado do sangue derramado nessa luta.

Nesse momento, lembrei-me que estou devendo um post para uma amiga, na verdade uma mulher guerreira que eu muito admiro. É certo que muitas das minhas amigas e clientes serão homenageadas e terão identificação com os temas abordados, certamente todas são minha fonte de inspiração, mas promessa é dívida e eu vou pagar o post que devo, principalmente porque renascer de um CTI, voltar a andar e retomar a vida plenamente é só para raras almas ou melhor, somente uma mulher vermelha é capaz disso. Eu devo esse presente a ela. Aliás eu devo esse post a todas as MULHERES VERMELHAS, incluindo é claro, a minha mãe, minha primeira referência de mulher vermelha.

Então, há alguns anos atrás, Karla (a mulher vermelha que renasceu e inspirou esse post) disse que as mulheres tem cores e que algumas são vermelhas e outras são rosas. Achei esse papo duca, muito interessante e pertinente. Entre umas cervejas e outras na época, ela contou-me que o desejo dela na verdade era dar origem a um livro, com esse título. Disse-lhe que escreveria para ela, aliás por todas nós esse seria um livro necessário. O livro ainda não saiu, mas o post, já está publicado.

Bem, ela definiu a mulher rosa como aquela que se coloca quase (ou totalmente) de forma virginal, desprotegida, anunciando necessitar de cuidados e proteção, embrulhada num papel de florzinha com fita cor-de-rosa, algumas com pluminhas e paetês em cima. Elas choram quando querem algo, amansam a voz quando querem manipular uma situação, colocam o dedinho na boca e planejam estrategicamente com seu lápis cor-de-rosa as jogadas da vida, fazendo de cada pessoa e situação uma pecinha do seu quebra-cabeça. Elas são vítimas de tudo e é impressionante a insensibilidade dessas “almas sensíveis” no tocante ao sentimento alheio. Somente elas sofrem. Freud as chamaria de histéricas. Para elas sempre a redenção e para os outros o alçapão. Elas deveriam realizar uma himenoplastia (só que no cérebro) freqüentemente para, desta forma, operar plasticamente a reconstrução do seu cérebro para que ele se torne mais flexível, sem ficar preocupada com essa aparência “virginal/angelical” que faz questão de bancar. Certamente não era essa estirpe de mulher que estava contida na fábrica que foi incendiada no dia 8 de março de 1857, nos Estados Unidos, em Nova Iorque, quando foi carbonizada uma grande e poderosa amostra de mulheres vermelhas, que vieram para mudar o mundo e mudaram.

A mulher vermelha não usa máscaras e rejeita platéias, ela aceita o progresso ao invés da perfeição, porque sabe que não é perfeita, porque se admite inacabada, ela é principalmente uma mulher resiliente, ela perde agora, renuncia aquilo que não for verdadeiro, mas não permite que a sua vida perca o sentido. Tal como se diz na física, ela é capaz de levar uma porrada imensa e continuar a existir em sua essência, sem se desintegrar, sem vender a alma para qualquer fdp ou qualquer causa indigna. Ela se parece com uma mola, mesmo sendo massacrada, retorna a sua forma inicial. Ela não abre mão da sua dignidade, ela tomba, claudica, se aperta e levanta pra recomeçar a luta, quantas vezes forem necessárias. As mulheres vermelhas se parecem com verdadeiras fênix, elas pegam fogo e renascem das próprias cinzas.

Se por acaso a mulher vermelha for aniquilada, permanecerá viva na memória de todo um povo ou pelo menos do grupo a qual pertence, porque suas marcas estão contidas na história que construíram, como foi o caso de Madre Teresa de Calcutá, irmã Dorothy, Eva, Maria Madalena, as 130 operárias dessa fábrica e muitas, muitas outras grandes mulheres vermelhas anônimas, que devem ser homenageadas por nós todos os dias. Elas sim amamentam toda a ninhada de uma nação de idealismo, perseverança e muitas, muitas lições de força, generosidade, solidariedade e altruísmo, como muitas de nós fazemos em nossos pequenos territórios, simbólicos públicos com quem trabalhamos e pessoas do nosso entorno, das nossas relações, no cotidiano, a cada dia.

Não há mulheres negras, amarelas, brancas. Há mulheres vermelhas e rosas. É a sua conduta, a sua atitude, a sua permissividade ou não em nome de abusos, prendas, ofertas indecorosas ou qualquer outra isca, que vai determinar a sua cor, que vai determinar quem é você, que tipo de mulher você deseja ser e como você deseja estar no mundo.

A mulher vermelha não se vende, não se compra em lugar nenhum, ela é criativa, ela arruma as soluções para os seus perrengues, ela mantém a sua conexão com o seu lado selvagem, ela é mulher em suas múltiplas competências e assume também as suas diversas deficiências. Ela não quer viver de aparências, até porque sabe que o valor material um dia vai perecer e por isso a carne ela não quer enaltecer, embora os homens insistam nesse dilema.

Aos homens que não entendem a diferença, façamos uma análise comparativa, eles querem a bunda durinha mas não querem o cérebro de amendoim. As mulheres vermelhas carregam o mundo, as mulheres cor-de-rosa querem ser carregadas. As mulheres vermelhas são sushi e sardinha frita no mesmo prato, plural, como comida à quilo. As mulheres rosas são sempre bibelôs enfeitando a estande. Eles querem o cérebro poderoso da mulher vermelha e o coração ardente e determinado, mas temem se relacionar com tanta intensidade. Eles são atraídos pela carcaça da mulher cor-de-rosa, pela sua dramaturgia, mas se decepcionam com a sua pseudofragilidade, dependência e falta de autenticidade . Óh homens, eles não sabem o que escolhem. Deixem que descubram aquilo que porventura os façam amadurecer em suas emoções. Deixem que descubram por si só, em suas próprias escolhas, nos efeitos dos seus corações. O Carnaval vai passar, o verão está por findar... sobrará o outono, depois o inverno, todo ano é assim... As peles das mulheres vermelhas e rosas estarão cobertas, só restarão a conversa, o bom vinho, o aconchego, a proximidade das almas, os programas onde os corações parecem ficar mais pertinho um do outro...

As mulheres vermelhas querem e lutam por verdadeiras causas na vida, elas são causas verdadeiras na vida de alguém e NÃO, apenas conquistas...

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval, adeus à carne

É Carnaval, e a folia?
Sinto a imagem da agonia
Parece sina, não combina
É certo que um dia
Devo retomar a poesia
Que seja logo
Essa profundidade que me alucina
Quero a minha alegria
Entendiante esse meu pensamento complexo
Essa angústia esquisita
Nada tem nexo
Me consome noite e dia
Meus sentimentos profundos
Tenho medo da loucura
É o tal do amor, é o amor
É por isso que não queria
É Carnaval, é Carnaval...
Esquece a dor
Se orienta pela sua sabedoria
Curta a folia, a folia
Tomara que não seja tudo heresia
Nesse contra-senso absurdo
Meu ouvido está surdo
Meu sentimento está mudo
Penso em tudo
Tomara que caiam as máscaras
É preciso seguir, maravilhosa e misteriosa
Na passarela, eu minha poesia e minha ira
Há rumores
Novas flores
Quem sabe sagrados amores
Sem fim
Fazem de mim
Refém nas montanhas
Das minhas manhas
Em cada manhã
Vejo um novo amanhã
Cadê você?
O que restou além da carne?
Carnaval é marcado pelo "adeus à carne"
Ou "carne vale"
Por que me permiti escarnecer?
Tempo de renascer
Às favas todas as fantasias e heresias
Muitas caras para sua coleção
Não sou mais uma
Se não é plena a sua emoção
Não me assuma
E a folia, e a folia? É Carnaval!
Me perder?
Parece que não faz mal
Não me peça para amar
Além do amor
E apesar da dor
É Carnaval, é Carnaval!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

nos olhos dele

agora eu me reconheci em um território que desconhecia
que ouvia pulsar por dentro
meu lado do desejo
me retorcia até o avesso
eu me apertava, me apertava contra mim
apertava meu corpo contra outro
mas não encontrava a mesma essência
procurava a conexão que me atraísse
em conteúdo feito igual ao meu
buscava a extremidade de um olhar
a intimidade do cheiro ao farejar
uma voz que se lançasse dentro das minhas entranhas
como simples eco da minha lascívia
agora grita a nossa devassidão
tudo é propenso entre nós à imensidão
queria sentir a ressonância dos meus sentimentos fortes
minha perspectiva louca
minhas histórias desarticuladas
meu corpo delicado
e eu ansiosa, ansiosa, ansiosa...
agora te reconheço
dono das minhas noites
inspiração dos meus dias
vives o tempo todo dentro de mim
mesmo que estejas em outro lugar
nossos intensos, trêmulos e lânguidos momentos
apenas sinto, me transporto para um outro mundo
meu sangue ferve
minh´alma bebe
minha mente delira
tenho febre e medo
dos muitos milhares de incríveis acontecimentos
que povoam a minha mente e
percorrem a minha alma quando estou com você
só falta a explosão de um gesto mínimo
que se manifesta em três palavras
nenhuma pressa
rimos muito , vejo estrada, sol e chuva
tudo que precisamos
mas como somos contradição
outro dia mesmo juntei todas as minhas forças
contra todo o meu desejo
e lutei muito para não dizer eu te amo
eu hein!
não fosse seus olhos...
é preciso muito cuidado em noites claras assim...
dizia Sartre, o filósofo, que o olhar do outro me confronta com aquilo que quero esconder de mim mesma...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dois


Dois em um sempre pode transcender
Dois segundos algo pode nascer
Dois olhares se cruzam através de almas famintas
Dois meses podem mudar duas vidas
Dois desejos podem se encontrar
Dois é pra equilibrar
Dois dá pra dançar
Dois é bom mesmo quando cada um é inteiro
Dois compartilham com intensidade
Dois praticam a sua vontade
Dois feitos da mesma essência
Dois com tanta transparência
Dois pés no chão
Dois com asas da imaginação
Dois não é ímpar
Dois é par
Dois é pra sonhar
Dois é tempo de amar!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Juca Vitória

Turfe é o esporte de origem britânica que promove e incentiva corridas de cavalos. Pois é, ouvindo a história do Juca Vitória, um cavalo de corrida que virou personagem em uma história de amor, andei refletindo sobre as convergências desse esporte com a prática real das relações sexoafetivas.

Assim como os relacionamentos amorosos, o turfe é um dos esportes mais tradicionais do mundo. Envolve a criação e treinamento do cavalo, competição e apostas. Semelhante ao amor, que envolve a criação do vínculo, o treinamento da relação (sim, se a relação não for muito bem adestrada no tocante ao reconhecimento de quais são as minhas neuroses, identificação de quais são as suas paranóias, posicionar o que é nosso e a maluquice que está entre nós, situar os limites e respeitar os espaços, a fusão detona o fim derradeiro de duas almas que deveriam ser inteiras e não metades, aí tudo vai pro carai), muita competição com os indíviduos não envolvidos diretamente na relação (os competidores externos querem disputar o prêmio dessa corrida, e putz tem muito fura olho em volta) e muitas, muitas apostas (como saber se você vai perder tudo, ganhar parcialmente ou levar o grande prêmio, que é ser feliz?).

Então, posto isso, uma vez era um casal um tanto intrigante e interessante. Ele questionava os desafios dessa relação e até que ponto a distância geográfica dos bairros distintos e distantes onde moravam e a falta de grana poderiam comprometer a conquista do grande prêmio. Era muito perrengue para superar. Ela infelizmente também não tinha como suplantar muitos dos obstáculos. Os dois possuíam uma proposta em comum: queriam ficar juntos.

Em uma sexta-feira qualquer, ele tinha R$10,00 na carteira, que revertidos em combustível daria para chegar até a casa dela. Mas e a volta? Ele pediu socorro a ela, que também não tinha um puto no bolso. Ele arriscou, pensou alto e apostou!

Bem, analisou ele “com R$10,00 eu vou até a casa dela e não volto, então nem fudendo vai rolar da gente se ver nessa sexta”, essa era a única certeza. Optou então pela incerteza: “VOU APOSTAR TUDO NO JUCA VITÓRIA!” Então ele apostou tudo que tinha, seus valiosos R$ 10,00 no Juca Vitória, um simples e inexpressivo cavalo que concorria nessa competição, mas que por trezentos metros a mais que não tinha no páreo anterior, lhe valeu só o placê. Entre as várias possibilidades de apostas, ele escolheu apostar no vencedor "também conhecido como ponta, que é a aposta direta no cavalo (suposto) ganhador”.

Às vezes a vida nos convida a apostar tudo em algumas situações, que em princípio não daríamos nada por ela. Algo intuitivamente nos diz que vai valer a pena. E no esporte amoroso não é diferente. Mesmo suado, difícil e complexo, precisamos conferir. É quase uma teimosia silenciosa.

E cruzam o destino final, como diriam os locutores de hipismo e acabou indo para o photochart, ou seja, a decisão foi baseada no olho fotográfico da corrida. Lá estava ele, o Juca Vitória, com o focinho apontando como vencedor e os 10 viraram 90 super viáveis Reais.

Agora, páreo a páreo com a realidade fora dos hipódromos, quantas várias possibilidades de apostas temos na vida, nos relacionamentos possíveis? O que nos leva muitas vezes a apostar em um único vencedor ou placê (se a sua aposta chegar em primeiro ou segundo lugar), ou na dupla (o apostador seleciona duas opções), ou na trifeta ou na quadrifeta, três ou quatro apostas simultaneamente? A vida nos oferece tantas possibilidades de acordo com a nossa disponibilidade, intenção e intuição... Difícil é saber o que fazer. É páreo duro, fazer uma escolha significa deixar de lado outras que podem nos parecer bastante atraentes, como diria Sartre, sábio filósofo existencialista.

Sem mais remates ou paradas, independente das apostas tradicionais ou do contrato verbal não informal entre duas pessoas ou mais, o que está no jogo da vida são as apostas.

Nosso apostador ousado no Juca Vitória, garantiu R$90,00 apostando tudo que tinha no seu candidato a vencedor, nove vezes o valor da sua aposta. Foi ver a amada e ainda saíram juntos para boas risadas e muitas cervejas geladas, arrematando o seu prêmio principal, ela. Vitorioso duas vezes, só conquistou tudo porque arriscou tudo.

E hoje?

Hoje eles estão casadíssimos e diga-se de passagem me parecem muito felizes, senão todos os dias, quase todos… Afinal, só reconhecemos a lua cheia e linda porque conhecemos a lua minguante. Eles certamente sabem disso, passaram por alguns críticos desafios, saboreiam o doce porque já experimentaram o amargo. Creio eu, com grande risco de me equivocar, que a felicidade deve ser confrontada de vez em quando com algum pesar, do contrário dificilmente é valorizada.

Assim é a vida, o amor é assim… Uma aposta diária, um risco a cada hora, um abismo de incertezas a cada segundo… Os apostadores transformam as certezas inertes em incertezas a cada aposta... Dizem que a incerteza é o que traz inspiração... Ouvi dizer por aí... E aí vai apostar?

Ass. Juca Vitória, da mesma linhagem do “Inusitado" http://umavezerahistoriasdegente.blogspot.com/2010/12/inusitado.html

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Amizade...

Amigos são como pão
São sagrados e sustentam o nosso chão
Também simbolizam o vinho
Companhia quando a gente se sente sozinho
Eles representam a partilha
Todo o avesso de uma vida
Companheirismo sem egoísmo
Aceitação sem condição
Partilha de todo dia
Quando tudo parece falhar
Eles estão lá para nos ajudar
Quando nada parece o suficiente
Eles seguram a onda da gente
Suportam a bebedeira
E aceitam toda a nossa besteira
Porque pelas nossas andanças
Todos nós fazemos um monte de lambanças
Às vezes os amigos entram na sintona da nossa dança
Outras ficam com cara de cachorro que caiu da mudança
Nem sempre presentes todos os dias
Mas sempre aparecem nas noites mais frias
Quando o nosso coração está aquecido
Eles comemoram com um grito
Diante do nosso pranto
Eles sussuram palavras doces e nos cobrem com seu manto
Mas também o carinho pode ser em forma de mordida
Quando eles percebem que não estamos valorizando a vida
Amigos ficam bravos e também fazem estragos
Depois nós nos perdoamos e nos abraçamos embriagados
Nada é capaz de abarcar o conceito de uma amizade
É bondade, é divindade… É solidariedade
É amor fraterno
Sem compromisso de ser eterno
É liberdade e não está aprisionado por nenhuma verdade
É simplesmente cumplicidade!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Novo ano sentindo como os lobos…

Um ano se vai e outro vem, com ele costumamos renovar os nossos votos de esperança, de luz e de energia para mais um ano anunciado.

Pois é, o que muda?

O ano ou a forma como podemos enxergar, sentir, cheirar, ouvir, tatear, intuir, provar, o novo que se aproxima?

Realizamos balanços infinitos, ponderamos as coisas que fizemos, o que queremos mudar, refocalizamos os projetos, reafirmamos alguns contratos valiosos e cancelamos outros que não nos servem mais, renovamos alguns relacionamentos que nos enriquecem e deixamos outros, os que nos subtraem, em estações diferentes. Celebramos as novas conquistas ao mesmo tempo que vivemos o luto do que ficou para trás. Assim é a vida…

O novo está todos os dias e segundos a nossa frente, dentro de nós, em todo lugar e a qualquer instante, mas muitas vezes não estabelecemos contato, não estamos dispostos a olhar diferente para o mesmo que se apresenta. O mundo não muda, nós é que mudamos a conexão, a concepção, a interação com as pessoas e as coisas.

O mesmo céu estrelado e brilhante, a mesma lua escondida e misteriosa atrás do morro, pode ser vista, sentida, tocada, com magia, encantamento e amor, ou com solidão, tristeza e temor. Olhar o ordinário e ver, enxergar, o extraordinário é sabedoria para poucos ou para aqueles com anos de estrada com muitas colisões e arranhões a flor da pele, ainda cicatrizando, certamente em contato com o seu lado selvagem.

Ler o cheiro, sentir um olhar, tocar em uma voz que sussurra, ouvir a sensação de uma pele arrepiada, enxergar o som do coração, provar o gosto da intuição é, na verdade a manifestação da integração com os seis sentidos, dádiva muitas vezes mal utilizada na correria que anestesia a todos nós, todos os dias, robotizando nossas emoções, endurecendo nossos corações, ressecando as nossas almas e prejudicando os nossos sentidos.

Para se ter uma ideia sobre o desenvolvimento dos sentidos dos lobos, sua audição é tão apurada que ele pode ouvir a queda de folhas das árvores durante o outono. Sua visão noturna é uma das mais avançadas, seus dentes representam uma das mais poderosas armas. A saliva dos lobos é apropriada para reduzir a infecção bacteriana em feridas e acelerar a regeneração dos tecidos, sua saliva é um bálsamo, seus "beijos curam". Durante a época de acasalamento, os lobos tornam-se muito carinhosos, antecipando o ciclo de ovulação da fêmea.

Nesse novo ano, apenas desejo que saibamos aguçar cada vez mais os nossos seis sentidos. Quisera que todos nós pudéssemos fazer a conexão com a energia dos lobos, principalmente os maus, que tem orelhas bem grandes para ouvir melhor, olhos enormes para enxergar melhor, nariz bem potente para farejar bem, boca com dentes bem poderosos para devorar o mundo com apetite e mãos bem fortes para pegar melhor, abraçar com intensidade.

Chega de princípes à cavalo e princesas encantadas aguardando para serem salvas, com as suas poses superficiais, com seus sentidos artificiais, cheios de perfeição platônica e pretensões irreais. Sejamos simplesmente gente, gente de carne e osso, imperfeita, insensata, incompleta, inacabada, errante, aprendiz, selvagem, que ri e que chora, que sangra, que sente, gente real, de verdade, que se doa e que recebe, que chega junto e que se dá, que tem medo mas que ousa correr riscos na aventura de viver. Gente que vive como os lobos, com os sentidos apurados, sensíveis aos estímulos, que abraçam, tocam, falam, escutam, se arrepiam e ficam lânguidas de desejo, inebriadas de sensações e sentidos.

O que faz a diferença? Ter um lobo em sua vida! Viver como os lobos nessa vida!

Os sentidos, os sentidos aguçados. Ah, os sentidos…

Desejo um 2011 cheio de sentido e de sentidos!

Sugestão de leitura: “Mulheres que correm com os lobos”, meu livro de cabeceira.
O livro de Clarissa Pinkólas Ester, aborda a importância da conexão da mulher com o seu lado selvagem através da análise e redefinição de lendas, contos de fadas e histórias antigas, analisando as semelhanças das características do feminino com a de uma loba. A obra se comunica diretamente com os conflitos cotidianos da mulher, porém todo homem deveria acessar essa bela e selvagem obra.