sábado, 22 de janeiro de 2011

Juca Vitória

Turfe é o esporte de origem britânica que promove e incentiva corridas de cavalos. Pois é, ouvindo a história do Juca Vitória, um cavalo de corrida que virou personagem em uma história de amor, andei refletindo sobre as convergências desse esporte com a prática real das relações sexoafetivas.

Assim como os relacionamentos amorosos, o turfe é um dos esportes mais tradicionais do mundo. Envolve a criação e treinamento do cavalo, competição e apostas. Semelhante ao amor, que envolve a criação do vínculo, o treinamento da relação (sim, se a relação não for muito bem adestrada no tocante ao reconhecimento de quais são as minhas neuroses, identificação de quais são as suas paranóias, posicionar o que é nosso e a maluquice que está entre nós, situar os limites e respeitar os espaços, a fusão detona o fim derradeiro de duas almas que deveriam ser inteiras e não metades, aí tudo vai pro carai), muita competição com os indíviduos não envolvidos diretamente na relação (os competidores externos querem disputar o prêmio dessa corrida, e putz tem muito fura olho em volta) e muitas, muitas apostas (como saber se você vai perder tudo, ganhar parcialmente ou levar o grande prêmio, que é ser feliz?).

Então, posto isso, uma vez era um casal um tanto intrigante e interessante. Ele questionava os desafios dessa relação e até que ponto a distância geográfica dos bairros distintos e distantes onde moravam e a falta de grana poderiam comprometer a conquista do grande prêmio. Era muito perrengue para superar. Ela infelizmente também não tinha como suplantar muitos dos obstáculos. Os dois possuíam uma proposta em comum: queriam ficar juntos.

Em uma sexta-feira qualquer, ele tinha R$10,00 na carteira, que revertidos em combustível daria para chegar até a casa dela. Mas e a volta? Ele pediu socorro a ela, que também não tinha um puto no bolso. Ele arriscou, pensou alto e apostou!

Bem, analisou ele “com R$10,00 eu vou até a casa dela e não volto, então nem fudendo vai rolar da gente se ver nessa sexta”, essa era a única certeza. Optou então pela incerteza: “VOU APOSTAR TUDO NO JUCA VITÓRIA!” Então ele apostou tudo que tinha, seus valiosos R$ 10,00 no Juca Vitória, um simples e inexpressivo cavalo que concorria nessa competição, mas que por trezentos metros a mais que não tinha no páreo anterior, lhe valeu só o placê. Entre as várias possibilidades de apostas, ele escolheu apostar no vencedor "também conhecido como ponta, que é a aposta direta no cavalo (suposto) ganhador”.

Às vezes a vida nos convida a apostar tudo em algumas situações, que em princípio não daríamos nada por ela. Algo intuitivamente nos diz que vai valer a pena. E no esporte amoroso não é diferente. Mesmo suado, difícil e complexo, precisamos conferir. É quase uma teimosia silenciosa.

E cruzam o destino final, como diriam os locutores de hipismo e acabou indo para o photochart, ou seja, a decisão foi baseada no olho fotográfico da corrida. Lá estava ele, o Juca Vitória, com o focinho apontando como vencedor e os 10 viraram 90 super viáveis Reais.

Agora, páreo a páreo com a realidade fora dos hipódromos, quantas várias possibilidades de apostas temos na vida, nos relacionamentos possíveis? O que nos leva muitas vezes a apostar em um único vencedor ou placê (se a sua aposta chegar em primeiro ou segundo lugar), ou na dupla (o apostador seleciona duas opções), ou na trifeta ou na quadrifeta, três ou quatro apostas simultaneamente? A vida nos oferece tantas possibilidades de acordo com a nossa disponibilidade, intenção e intuição... Difícil é saber o que fazer. É páreo duro, fazer uma escolha significa deixar de lado outras que podem nos parecer bastante atraentes, como diria Sartre, sábio filósofo existencialista.

Sem mais remates ou paradas, independente das apostas tradicionais ou do contrato verbal não informal entre duas pessoas ou mais, o que está no jogo da vida são as apostas.

Nosso apostador ousado no Juca Vitória, garantiu R$90,00 apostando tudo que tinha no seu candidato a vencedor, nove vezes o valor da sua aposta. Foi ver a amada e ainda saíram juntos para boas risadas e muitas cervejas geladas, arrematando o seu prêmio principal, ela. Vitorioso duas vezes, só conquistou tudo porque arriscou tudo.

E hoje?

Hoje eles estão casadíssimos e diga-se de passagem me parecem muito felizes, senão todos os dias, quase todos… Afinal, só reconhecemos a lua cheia e linda porque conhecemos a lua minguante. Eles certamente sabem disso, passaram por alguns críticos desafios, saboreiam o doce porque já experimentaram o amargo. Creio eu, com grande risco de me equivocar, que a felicidade deve ser confrontada de vez em quando com algum pesar, do contrário dificilmente é valorizada.

Assim é a vida, o amor é assim… Uma aposta diária, um risco a cada hora, um abismo de incertezas a cada segundo… Os apostadores transformam as certezas inertes em incertezas a cada aposta... Dizem que a incerteza é o que traz inspiração... Ouvi dizer por aí... E aí vai apostar?

Ass. Juca Vitória, da mesma linhagem do “Inusitado" http://umavezerahistoriasdegente.blogspot.com/2010/12/inusitado.html

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Amizade...

Amigos são como pão
São sagrados e sustentam o nosso chão
Também simbolizam o vinho
Companhia quando a gente se sente sozinho
Eles representam a partilha
Todo o avesso de uma vida
Companheirismo sem egoísmo
Aceitação sem condição
Partilha de todo dia
Quando tudo parece falhar
Eles estão lá para nos ajudar
Quando nada parece o suficiente
Eles seguram a onda da gente
Suportam a bebedeira
E aceitam toda a nossa besteira
Porque pelas nossas andanças
Todos nós fazemos um monte de lambanças
Às vezes os amigos entram na sintona da nossa dança
Outras ficam com cara de cachorro que caiu da mudança
Nem sempre presentes todos os dias
Mas sempre aparecem nas noites mais frias
Quando o nosso coração está aquecido
Eles comemoram com um grito
Diante do nosso pranto
Eles sussuram palavras doces e nos cobrem com seu manto
Mas também o carinho pode ser em forma de mordida
Quando eles percebem que não estamos valorizando a vida
Amigos ficam bravos e também fazem estragos
Depois nós nos perdoamos e nos abraçamos embriagados
Nada é capaz de abarcar o conceito de uma amizade
É bondade, é divindade… É solidariedade
É amor fraterno
Sem compromisso de ser eterno
É liberdade e não está aprisionado por nenhuma verdade
É simplesmente cumplicidade!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Novo ano sentindo como os lobos…

Um ano se vai e outro vem, com ele costumamos renovar os nossos votos de esperança, de luz e de energia para mais um ano anunciado.

Pois é, o que muda?

O ano ou a forma como podemos enxergar, sentir, cheirar, ouvir, tatear, intuir, provar, o novo que se aproxima?

Realizamos balanços infinitos, ponderamos as coisas que fizemos, o que queremos mudar, refocalizamos os projetos, reafirmamos alguns contratos valiosos e cancelamos outros que não nos servem mais, renovamos alguns relacionamentos que nos enriquecem e deixamos outros, os que nos subtraem, em estações diferentes. Celebramos as novas conquistas ao mesmo tempo que vivemos o luto do que ficou para trás. Assim é a vida…

O novo está todos os dias e segundos a nossa frente, dentro de nós, em todo lugar e a qualquer instante, mas muitas vezes não estabelecemos contato, não estamos dispostos a olhar diferente para o mesmo que se apresenta. O mundo não muda, nós é que mudamos a conexão, a concepção, a interação com as pessoas e as coisas.

O mesmo céu estrelado e brilhante, a mesma lua escondida e misteriosa atrás do morro, pode ser vista, sentida, tocada, com magia, encantamento e amor, ou com solidão, tristeza e temor. Olhar o ordinário e ver, enxergar, o extraordinário é sabedoria para poucos ou para aqueles com anos de estrada com muitas colisões e arranhões a flor da pele, ainda cicatrizando, certamente em contato com o seu lado selvagem.

Ler o cheiro, sentir um olhar, tocar em uma voz que sussurra, ouvir a sensação de uma pele arrepiada, enxergar o som do coração, provar o gosto da intuição é, na verdade a manifestação da integração com os seis sentidos, dádiva muitas vezes mal utilizada na correria que anestesia a todos nós, todos os dias, robotizando nossas emoções, endurecendo nossos corações, ressecando as nossas almas e prejudicando os nossos sentidos.

Para se ter uma ideia sobre o desenvolvimento dos sentidos dos lobos, sua audição é tão apurada que ele pode ouvir a queda de folhas das árvores durante o outono. Sua visão noturna é uma das mais avançadas, seus dentes representam uma das mais poderosas armas. A saliva dos lobos é apropriada para reduzir a infecção bacteriana em feridas e acelerar a regeneração dos tecidos, sua saliva é um bálsamo, seus "beijos curam". Durante a época de acasalamento, os lobos tornam-se muito carinhosos, antecipando o ciclo de ovulação da fêmea.

Nesse novo ano, apenas desejo que saibamos aguçar cada vez mais os nossos seis sentidos. Quisera que todos nós pudéssemos fazer a conexão com a energia dos lobos, principalmente os maus, que tem orelhas bem grandes para ouvir melhor, olhos enormes para enxergar melhor, nariz bem potente para farejar bem, boca com dentes bem poderosos para devorar o mundo com apetite e mãos bem fortes para pegar melhor, abraçar com intensidade.

Chega de princípes à cavalo e princesas encantadas aguardando para serem salvas, com as suas poses superficiais, com seus sentidos artificiais, cheios de perfeição platônica e pretensões irreais. Sejamos simplesmente gente, gente de carne e osso, imperfeita, insensata, incompleta, inacabada, errante, aprendiz, selvagem, que ri e que chora, que sangra, que sente, gente real, de verdade, que se doa e que recebe, que chega junto e que se dá, que tem medo mas que ousa correr riscos na aventura de viver. Gente que vive como os lobos, com os sentidos apurados, sensíveis aos estímulos, que abraçam, tocam, falam, escutam, se arrepiam e ficam lânguidas de desejo, inebriadas de sensações e sentidos.

O que faz a diferença? Ter um lobo em sua vida! Viver como os lobos nessa vida!

Os sentidos, os sentidos aguçados. Ah, os sentidos…

Desejo um 2011 cheio de sentido e de sentidos!

Sugestão de leitura: “Mulheres que correm com os lobos”, meu livro de cabeceira.
O livro de Clarissa Pinkólas Ester, aborda a importância da conexão da mulher com o seu lado selvagem através da análise e redefinição de lendas, contos de fadas e histórias antigas, analisando as semelhanças das características do feminino com a de uma loba. A obra se comunica diretamente com os conflitos cotidianos da mulher, porém todo homem deveria acessar essa bela e selvagem obra.