sexta-feira, 11 de março de 2011

Mulheres Vermelhas


Pois é, em nome do Dia Internacional da Mulher, eu comecei a escrever um poema que tinha contido uma poesia, que emocionava e tocava a sensibilidade. Mas, quando comecei a escrever a estrofe que fazia referência as 130 mulheres que foram queimadas nesse dia, lutando por direitos humanos, mais especificamente pela redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas por dia de trabalho, pela equidade salarial em relação ao trabalhador homem e pelo direito a licença-maternidade, a poesia sucumbiu, eu me indignei (pra ser mais sincera eu me emputeci) e o que seria um poema certamente virou um editorial militante, bem vermelho, manchado do sangue derramado nessa luta.

Nesse momento, lembrei-me que estou devendo um post para uma amiga, na verdade uma mulher guerreira que eu muito admiro. É certo que muitas das minhas amigas e clientes serão homenageadas e terão identificação com os temas abordados, certamente todas são minha fonte de inspiração, mas promessa é dívida e eu vou pagar o post que devo, principalmente porque renascer de um CTI, voltar a andar e retomar a vida plenamente é só para raras almas ou melhor, somente uma mulher vermelha é capaz disso. Eu devo esse presente a ela. Aliás eu devo esse post a todas as MULHERES VERMELHAS, incluindo é claro, a minha mãe, minha primeira referência de mulher vermelha.

Então, há alguns anos atrás, Karla (a mulher vermelha que renasceu e inspirou esse post) disse que as mulheres tem cores e que algumas são vermelhas e outras são rosas. Achei esse papo duca, muito interessante e pertinente. Entre umas cervejas e outras na época, ela contou-me que o desejo dela na verdade era dar origem a um livro, com esse título. Disse-lhe que escreveria para ela, aliás por todas nós esse seria um livro necessário. O livro ainda não saiu, mas o post, já está publicado.

Bem, ela definiu a mulher rosa como aquela que se coloca quase (ou totalmente) de forma virginal, desprotegida, anunciando necessitar de cuidados e proteção, embrulhada num papel de florzinha com fita cor-de-rosa, algumas com pluminhas e paetês em cima. Elas choram quando querem algo, amansam a voz quando querem manipular uma situação, colocam o dedinho na boca e planejam estrategicamente com seu lápis cor-de-rosa as jogadas da vida, fazendo de cada pessoa e situação uma pecinha do seu quebra-cabeça. Elas são vítimas de tudo e é impressionante a insensibilidade dessas “almas sensíveis” no tocante ao sentimento alheio. Somente elas sofrem. Freud as chamaria de histéricas. Para elas sempre a redenção e para os outros o alçapão. Elas deveriam realizar uma himenoplastia (só que no cérebro) freqüentemente para, desta forma, operar plasticamente a reconstrução do seu cérebro para que ele se torne mais flexível, sem ficar preocupada com essa aparência “virginal/angelical” que faz questão de bancar. Certamente não era essa estirpe de mulher que estava contida na fábrica que foi incendiada no dia 8 de março de 1857, nos Estados Unidos, em Nova Iorque, quando foi carbonizada uma grande e poderosa amostra de mulheres vermelhas, que vieram para mudar o mundo e mudaram.

A mulher vermelha não usa máscaras e rejeita platéias, ela aceita o progresso ao invés da perfeição, porque sabe que não é perfeita, porque se admite inacabada, ela é principalmente uma mulher resiliente, ela perde agora, renuncia aquilo que não for verdadeiro, mas não permite que a sua vida perca o sentido. Tal como se diz na física, ela é capaz de levar uma porrada imensa e continuar a existir em sua essência, sem se desintegrar, sem vender a alma para qualquer fdp ou qualquer causa indigna. Ela se parece com uma mola, mesmo sendo massacrada, retorna a sua forma inicial. Ela não abre mão da sua dignidade, ela tomba, claudica, se aperta e levanta pra recomeçar a luta, quantas vezes forem necessárias. As mulheres vermelhas se parecem com verdadeiras fênix, elas pegam fogo e renascem das próprias cinzas.

Se por acaso a mulher vermelha for aniquilada, permanecerá viva na memória de todo um povo ou pelo menos do grupo a qual pertence, porque suas marcas estão contidas na história que construíram, como foi o caso de Madre Teresa de Calcutá, irmã Dorothy, Eva, Maria Madalena, as 130 operárias dessa fábrica e muitas, muitas outras grandes mulheres vermelhas anônimas, que devem ser homenageadas por nós todos os dias. Elas sim amamentam toda a ninhada de uma nação de idealismo, perseverança e muitas, muitas lições de força, generosidade, solidariedade e altruísmo, como muitas de nós fazemos em nossos pequenos territórios, simbólicos públicos com quem trabalhamos e pessoas do nosso entorno, das nossas relações, no cotidiano, a cada dia.

Não há mulheres negras, amarelas, brancas. Há mulheres vermelhas e rosas. É a sua conduta, a sua atitude, a sua permissividade ou não em nome de abusos, prendas, ofertas indecorosas ou qualquer outra isca, que vai determinar a sua cor, que vai determinar quem é você, que tipo de mulher você deseja ser e como você deseja estar no mundo.

A mulher vermelha não se vende, não se compra em lugar nenhum, ela é criativa, ela arruma as soluções para os seus perrengues, ela mantém a sua conexão com o seu lado selvagem, ela é mulher em suas múltiplas competências e assume também as suas diversas deficiências. Ela não quer viver de aparências, até porque sabe que o valor material um dia vai perecer e por isso a carne ela não quer enaltecer, embora os homens insistam nesse dilema.

Aos homens que não entendem a diferença, façamos uma análise comparativa, eles querem a bunda durinha mas não querem o cérebro de amendoim. As mulheres vermelhas carregam o mundo, as mulheres cor-de-rosa querem ser carregadas. As mulheres vermelhas são sushi e sardinha frita no mesmo prato, plural, como comida à quilo. As mulheres rosas são sempre bibelôs enfeitando a estande. Eles querem o cérebro poderoso da mulher vermelha e o coração ardente e determinado, mas temem se relacionar com tanta intensidade. Eles são atraídos pela carcaça da mulher cor-de-rosa, pela sua dramaturgia, mas se decepcionam com a sua pseudofragilidade, dependência e falta de autenticidade . Óh homens, eles não sabem o que escolhem. Deixem que descubram aquilo que porventura os façam amadurecer em suas emoções. Deixem que descubram por si só, em suas próprias escolhas, nos efeitos dos seus corações. O Carnaval vai passar, o verão está por findar... sobrará o outono, depois o inverno, todo ano é assim... As peles das mulheres vermelhas e rosas estarão cobertas, só restarão a conversa, o bom vinho, o aconchego, a proximidade das almas, os programas onde os corações parecem ficar mais pertinho um do outro...

As mulheres vermelhas querem e lutam por verdadeiras causas na vida, elas são causas verdadeiras na vida de alguém e NÃO, apenas conquistas...

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval, adeus à carne

É Carnaval, e a folia?
Sinto a imagem da agonia
Parece sina, não combina
É certo que um dia
Devo retomar a poesia
Que seja logo
Essa profundidade que me alucina
Quero a minha alegria
Entendiante esse meu pensamento complexo
Essa angústia esquisita
Nada tem nexo
Me consome noite e dia
Meus sentimentos profundos
Tenho medo da loucura
É o tal do amor, é o amor
É por isso que não queria
É Carnaval, é Carnaval...
Esquece a dor
Se orienta pela sua sabedoria
Curta a folia, a folia
Tomara que não seja tudo heresia
Nesse contra-senso absurdo
Meu ouvido está surdo
Meu sentimento está mudo
Penso em tudo
Tomara que caiam as máscaras
É preciso seguir, maravilhosa e misteriosa
Na passarela, eu minha poesia e minha ira
Há rumores
Novas flores
Quem sabe sagrados amores
Sem fim
Fazem de mim
Refém nas montanhas
Das minhas manhas
Em cada manhã
Vejo um novo amanhã
Cadê você?
O que restou além da carne?
Carnaval é marcado pelo "adeus à carne"
Ou "carne vale"
Por que me permiti escarnecer?
Tempo de renascer
Às favas todas as fantasias e heresias
Muitas caras para sua coleção
Não sou mais uma
Se não é plena a sua emoção
Não me assuma
E a folia, e a folia? É Carnaval!
Me perder?
Parece que não faz mal
Não me peça para amar
Além do amor
E apesar da dor
É Carnaval, é Carnaval!