Era um dia como outro qualquer e biriblim, entra uma
mensagem pelo whatsapp. Era de uma
amiga: “E aí, você tá bem?”. Respondo sem pensar: “Tô bem sim, bem
louca!”. Quase não me dei conta do excesso de sinceridade que me acometeu.
Em tempos de análise, crise por falta d´água, colapso
político, perdas econômicas, amadurecimento pós 40 e mais uma lista infindável
de trágicos acontecimentos (aumentados da minha parte dramática é claro), eu
deveria encontrar o meu eixo, ou melhor, eu deveria ter um eixo, só que não.
Ando cada vez mais pirada, louca e desequilibrada. Envelhecer, viver a vida
acontecer virou sinônimo de
enlouquecimento.
Cansada da existência, levanto e caio, levanto e caio,
levanto e tropeço, claudicante sigo, consigo, às vezes não. Há, por vezes, vontade de desistir, mas continuo. Não é bom?
Hoje em dia parece que anunciar nas redes sociais que se está vivendo e fazendo coisas vale mais
do que o que se vive. Como se satisfaz com a vida virtual? Como tanta gente faz,
em tempos onde posar para postar é o que realmente importa. Babaquice pura?!
Vaidade?! Competitividade?! Exibicionismo que se complementa pelo voyeurismo?!
Que fenômeno absurdo seria esse?
Clarice Lispector escreveu certa vez que “uma pessoa podia
gastar-se sendo apenas”. Pronto, me sinto gasta, queria ter escrito essa frase,
seria facilmente de minha autoria mas não foi. Me contento em reproduzi-la. Amo
Clarice, ela sempre traduz a minha alma.
Esgota sentir, ser, cara na vida, vida na cara, deve ser por
isso que as pessoas desenvolvem uma segunda vida nas redes sociais. Hoje tenho
preguiça de existir e tenho também preguiça das pessoas, tô gasta. Ao contrário da maioria, não tenho saco para as redes sociais embora a utilize esporadicamente. Vai entender?! Há medo mas
também esperança. Reclamo com a vida da vida. Ainda a desejo apesar dos pesares.
O problema também é que faço muita besteira, sou
literalmente uma “merdeira”, tenho uma existência tão errada que até as
besteiras me acham besta. Isso me gasta ainda mais, pois vivo me desculpando, me
reparando, me consertando com a vida. Não é chato isso?
Já tive sorriso mais fácil e vívido, agora ele me vem mais
difícil e até opaco, deve ser a idade. Poucos velhos tem um sorriso límpido e
aberto. Nesse ponto tenho vontade de ser como era antes. Tenho a impressão corriqueira de que não falo coisa com coisa. Falo coisa com gente, vejo gente com coisa. Escrevo sem pensar. Se pensar muito, apago tudo.
Ter um filho é viver vigilante e sobressaltada. A gente fica
magra e nervosa ou então gorda e nervosa, mas sempre nervosa. É a natureza das
mães, acho. A gente sempre tem medo que aconteça o pior. Leva o casaquinho, se
comporta, presta atenção, juízo, não mexe em nada, não mergulha no fundo,
escova os dentes, coloca o chinelo e etc e tal. Deve ser o medo das mães que
protege os filhos. Não conheci até hoje nenhuma mãe que não tivesse medo. Todas
são apavoradas.
Estou inquieta, indecifrável. Sempre quis um homem que me
entendesse e que me explicasse. Por vezes não gosto da explicação agora que o
tenho. Ele me acha louca, penso. Mas creio que deva me amar assim mesmo. Isso também é bom, não é? Devo ser complexa e complicada demais. Nem eu me aturo. Há desconforto em
viver, sinto esse desconforto como se procurasse uma posição que me trouxesse
apenas: paz. Sempre fui assim, sem paciência, sem paz interior. E isso é uma
merda! Às vezes tenho vontade de meditar, mas não sei como se faz.
Morte e renascimento fazem parte de mim mas tem horas que só
a redenção ao silêncio me conforta. Então calo-me, escuto-me. Adianta porra
nenhuma para conquistar a paz interior. Continuo embaralhada e embarulhada por
dentro.
Desde sempre fluo instável, coisa ruim de se admitir! Quase
sempre penso na morte e por vezes (muitas) desejo encontrá-la e é aí que começo novamente a travar uma luta
contra ela. No ímpeto de viver, como de costume, claudicante vou seguindo. Vida, morte, vida, morte...
Sobrecarregada de mim mesma penso: passa rápido tempo! E
coloca as coisas no lugar. Que lugar?Aproveita e leva contigo essa sensação de
sufocamento. E, quando estiver tudo bem, tempo, que você passe bem devagar.
E assim sigo bem, bem louca!