sábado, 21 de fevereiro de 2015

Bem sim, bem louca...


Era um dia como outro qualquer e biriblim, entra uma mensagem pelo whatsapp. Era de uma amiga: “E aí, você tá bem?”. Respondo sem pensar: “Tô bem sim, bem louca!”. Quase não me dei conta do excesso de sinceridade que me acometeu.

Em tempos de análise, crise por falta d´água, colapso político, perdas econômicas, amadurecimento pós 40 e mais uma lista infindável de trágicos acontecimentos (aumentados da minha parte dramática é claro), eu deveria encontrar o meu eixo, ou melhor, eu deveria ter um eixo, só que não. Ando cada vez mais pirada, louca e desequilibrada. Envelhecer, viver a vida acontecer  virou sinônimo de enlouquecimento.

Cansada da existência, levanto e caio, levanto e caio, levanto e tropeço, claudicante sigo, consigo, às vezes não. Há, por vezes, vontade de desistir, mas continuo. Não é bom?

Hoje em dia parece que anunciar nas redes sociais  que se está vivendo e fazendo coisas vale mais do que o que se vive. Como se satisfaz com a vida virtual? Como tanta gente faz, em tempos onde posar para postar é o que realmente importa. Babaquice pura?! Vaidade?! Competitividade?! Exibicionismo que se complementa pelo voyeurismo?! Que fenômeno absurdo seria esse?

Clarice Lispector escreveu certa vez que “uma pessoa podia gastar-se sendo apenas”. Pronto, me sinto gasta, queria ter escrito essa frase, seria facilmente de minha autoria mas não foi. Me contento em reproduzi-la. Amo Clarice, ela sempre traduz a minha alma.

Esgota sentir, ser, cara na vida, vida na cara, deve ser por isso que as pessoas desenvolvem uma segunda vida nas redes sociais. Hoje tenho preguiça de existir e tenho também preguiça das pessoas, tô gasta. Ao contrário da maioria, não tenho saco para as redes sociais embora a utilize esporadicamente. Vai entender?! Há medo mas também esperança. Reclamo com a vida da vida. Ainda a desejo apesar dos pesares.

O problema também é que faço muita besteira, sou literalmente uma “merdeira”, tenho uma existência tão errada que até as besteiras me acham besta. Isso me gasta ainda mais, pois vivo me desculpando, me reparando, me consertando com a vida. Não é chato isso?

Já tive sorriso mais fácil e vívido, agora ele me vem mais difícil e até opaco, deve ser a idade. Poucos velhos tem um sorriso límpido e aberto. Nesse ponto tenho vontade de ser como era antes. Tenho a impressão corriqueira de que não falo coisa com coisa. Falo coisa com gente, vejo gente com coisa. Escrevo sem pensar. Se pensar muito, apago tudo.

Ter um filho é viver vigilante e sobressaltada. A gente fica magra e nervosa ou então gorda e nervosa, mas sempre nervosa. É a natureza das mães, acho. A gente sempre tem medo que aconteça o pior. Leva o casaquinho, se comporta, presta atenção, juízo, não mexe em nada, não mergulha no fundo, escova os dentes, coloca o chinelo e etc e tal. Deve ser o medo das mães que protege os filhos. Não conheci até hoje nenhuma mãe que não tivesse medo. Todas são apavoradas.

Estou inquieta, indecifrável. Sempre quis um homem que me entendesse e que me explicasse. Por vezes não gosto da explicação agora que o tenho. Ele me acha louca, penso. Mas creio que deva me amar assim mesmo. Isso também é bom, não é? Devo ser complexa e complicada demais. Nem eu me aturo. Há desconforto em viver, sinto esse desconforto como se procurasse uma posição que me trouxesse apenas: paz. Sempre fui assim, sem paciência, sem paz interior. E isso é uma merda! Às vezes tenho vontade de meditar, mas não sei como se faz.

Morte e renascimento fazem parte de mim mas tem horas que só a redenção ao silêncio me conforta. Então calo-me, escuto-me. Adianta porra nenhuma para conquistar a paz interior. Continuo embaralhada e embarulhada por dentro.

Desde sempre fluo instável, coisa ruim de se admitir! Quase sempre penso na morte e por vezes (muitas) desejo encontrá-la e é  aí que começo novamente a travar uma luta contra ela. No ímpeto de viver, como de costume, claudicante vou seguindo. Vida, morte, vida, morte...

Sobrecarregada de mim mesma penso: passa rápido tempo! E coloca as coisas no lugar. Que lugar?Aproveita e leva contigo essa sensação de sufocamento. E, quando estiver tudo bem, tempo, que você passe bem devagar.

E assim sigo bem, bem louca!